Tenho a impressão que estamos envolvidos em uma crise ética imensurável. Valores que me foram ensinados na minha primeira idade foram jogados na lata do lixo. Em parte, passo a culpar a lógica do sistema em que estamos inseridos. O capitalismo não perdoa… Aniquila. Vivemos em constante estágio de tentação até dentro da nossa própria casa quando somos “bombardeados” pelos anúncios publicitários cada vez mais vorazes no sentido de mostrar a última necessidade supérflua.

Depois aparece o erotismo exagerado, o conceito de feio e bonito, o modelo de mulher, o modelo de homem, mas nada é mostrado quanto ao modelo de um novo ser humano. Um modelo que tenha alicerces na solidariedade, amizade, companheirismo e no amor. Sinto falta de bons exemplos, de boas ações e de boas pessoas. Tenho lembranças, por exemplo, que o meu avô, Augusto Duarte, tinha sempre um sorriso aberto mesmo na mais pior das crises.

Meu avô era comerciante e devoto de São Francisco de Assis. Sua loja, na travessa por traz da Concha Acústica, chamava-se “Armazém São Francisco” cujo cartão postal era o sorriso do proprietário e um velho bordão: “O que vamos levar hoje, meu bem?” Era assim que tratava homens, mulheres e crianças.

Aliás, a relação comercial daquela época era por demais personalizada. O dono fazia questão em abraçar quem lhe visitava. Como esquecer o sorriso de Gilberto Godoy, das Lojas Alvorada?  As brincadeiras de João do Bode que conquistava cada um. A simpatia da Dona Bé que nos recebia com um abraço e a prosa de seu Modesto da Casa  Penha?

Estes personagem que marcaram a minha infância tinham que vender os seus produtos mas não os colocavam a cima da relação com o cliente. Por isto, que muitas vezes, sinto saudades da difusora “A Voz da Liberdade” do saudoso Nizinho. Três cornetas de som instaladas na praça Sérgio Magalhães que faziam a diferença. Não pela qualidade do som. Muito pelo contrário. Mas era muito bom terminar um dia de trabalho ouvindo a “Ave- Maria” ecoar pelo centro da cidade: “Seis horas, Ave- Maria”. Isto me fazia refletir sobre a minha condição humana. Agora não há mais tempo porque a novela na TV tem capítulos emocionantes.

Sinto falta dos bons exemplos, mas tenho esperanças. Meu desafio é fazer com que a minha neta, Mariah, de 5 anos, não troque o nosso abraço todas às vezes que chego em casa por uma cobrança de uma boneca que ela viu no canal Discovery Kids. Se eu conseguir isto até os 12 anos, já fiz muita coisa. Um bom domingo a todos e muita saúde e paz!