Da Folha de PE
Um dos maiores desafios da estreia do astro Michael B. Jordan na direção de um longa como “Creed III”, estreia desta quinta-feira (2) nos cinemas brasileiros, não era apenas fazer um bom filme, mas justificá-lo. Óbvio, uma franquia ganha novos capítulos de acordo com seu apelo comercial e retorno financeiro, mas é fácil não ter mais o que dizer após nove filmes com jornadas narrativas semelhantes.
Apesar de garantir uma nova vida à franquia que começou com “Rocky” (1976), a história de Adonis Creed (Michael B. Jordan) sempre se apoiou em ganchos de história e personagens pré-existentes, como o próprio Rocky Balboa (Sylvester Stallone), agora ausente, e o vilão Ivan Drago (Dolph Lundgren), responsável pela morte de seu pai, Apollo Creed.
A história de autoria de Ryan Coogler, que encabeça a produção da trilogia, dá a Adonis a oportunidade de lutar as próprias lutas e enfrentar os seus próprios demônios, e não mais os bichos-papões no vestiário de seu pai ou de seu treinador. O longa põe Adonis como ponto central de todos os conflitos, do passado que volta para assombrar a compreensão de suas origens e traumas, ao legado que vai deixar, seja nos ringues ou dentro de casa.
Mas aqui, cabe-se entender a distinção entre história e roteiro. Onde o primeiro acerta ao nos dar uma coerente sobrecarga no status quo do nosso herói, o segundo se atrapalha na hora de entregar conclusões satisfatórias em todos os núcleos, desperdiçando narrativas promissoras ao utilizá-las apenas como combustível para o colapso de Adonis, a exemplo da relação de sua esposa Bianca (Tessa Thompson) com sua aposentadoria forçada dos palcos, e da descoberta dos comportamentos agressivos da filha do casal, Amara (Mila Davis-Kent).
Sofrendo com a necessidade de fazer malabarismo com fragmentos de história, o inexperiente diretor consegue compensar sua falta de expertise com paixão, tanto pela franquia que ajudou a lhe catapultar como um dos maiores jovens nomes da indústria, quanto pela arte em si, e é justamente por todo esse contexto que “Creed III” se destaca.