Publicado às 05h08 deste sábado (1)
Em dezembro de 1979, na rodoviária de Caruaru no Agreste pernambucano, por volta das 9h às 10h30 da manhã, chegou uma jovem, que aparentava ter entre 16 e 17 anos, bonita, morena, parecia uma índia. Ela estava com uma criança recém-nascida nos braços. Num canto, estava sentado um menino de 10 anos, que aguardava sua mãe que havia ido ao banheiro. Nesse intervalo, a jovem chegou e entregou a criança ao garoto e foi embora. Hoje, a menina que foi entregue naquela rodoviária, busca encontrar a sua mãe biológica. Essa foi a história que os irmãos Bartolomeu Monteiro e Janaína Araújo contaram ao Farol de Notícias nesta quinta-feira (29).
O Farol conversou com Bartolomeu Monteiro Ferreira, 53 anos, o jovem que recebeu a menina na rodoviária de Caruaru, que na época tinha apenas 10 anos; e com Janaína Araújo Luiz, 42 anos, que reside em Taboão da Serra, São Paulo, a criança que o garoto recebeu como sua irmã.
“Chegamos para pegarmos o ônibus para Recife. Minha mãe estava com as malas e algumas coisas, e a minha mãe me deixou no canto sentado, e falou: ‘Fica aqui, que eu vou ao banheiro’. Eu fiquei sozinho e chegou uma moça, morena, com mais ou menos 16 anos, com uma criança no colo, um bebezinho. A moça falou: ‘Cadê a sua mãe? Você está sozinho aqui?’. Eu falei: ‘Estou com a minha mãe’. Ela falou: ‘Cadê a sua mãe?’. Eu falei: ‘A minha mãe está no banheiro’. Ela falou: ‘Você quer para você esta criança?’. Eu falei: ‘Quero’, e ela me deu a criança no colo, enrolada em uma mantinha e uma batinha. A moça saiu para tomar água. A minha mãe quando chegou falou: ‘De quem é esse menino?’. Eu falei: ‘É meu’. A minha mãe falou: ‘Como é sua essa menina? Quem deu?’. Eu falei: ‘Aquela mulher ali”, detalhou Bartolomeu Monteiro, acrescentando:
“Ela veio e conversou com a minha mãe. Se eu não me engano, ela falou que era de Serra Talhada, de uma fazenda que o pai dela trabalhava, tinha muitos irmãos. Ela saiu de Serra Talhada para trabalhar como empregada doméstica na casa de um pessoal em Caruaru. E lá, não sei como, ela acabou se envolvendo com o filho do patrão e teve essa criança. Se ela voltasse para a casa do patrão ia para a rua com a criança. Ela falou que se chegasse no pai dela, ele era de roça, muito ignorante, com certeza poderia fazer algum mal; e não aceitaria. Como ela não tinha opção, estava doando a criança. Nisso, ela ficou conversando ali, a gente descuidou, e ela foi embora. Nosso ônibus já estava de saída para ir para Recife, e nós pegamos o ônibus com essa criança, e levamos. Quando chegamos em Recife compramos uma roupinha para ela. O umbigo dela ainda não tinha caído. Levamos para Recife, cuidamos dela. Como faz muito tempo, eu não lembro o nome do pai, só lembro que era de Serra Talhada ou Arcoverde, dessa região. Isso eu lembro que ela falou”, destacou Bartolomeu Monteiro.
Janaína Araújo disse que foi registrada em 1980, em São Paulo. Hojé é casada, tem duas filhas, uma de 20 anos e outra de 23. Aos 16 anos descobriu ter sido adotada, mas naquele momento não quis saber da história. Aos 35, teve o desejo de saber sobre a sua história, e hoje tem se empenhado para saber sobre a sua mãe biológica.
“Anos atrás, eu não queria saber, não tinha vontade de conhecer ela; mas depois, você vai escutando rádio, escutando reportagens pela televisão. Eu vi muito o Geraldo Luís, e teve uma história que acabou me comovendo, e comecei a sentir um pouco de vontade de querer conhecer a minha mãe. Tenho muita vontade de querer entender a minha história, de entender o porquê. Eu queria ouvir da boca dela”, disse Janaína Araújo, destacando:
“Sempre fui tratada muito bem pela minha família [adotiva]. Nunca me deixaram de escanteio por não ser nada deles, pelo contrário, sempre fui tratada como filha. Não tenho o que reclamar. Sou muito grata, a gente se dá muito bem. É a única família que eu tenho. Sou apaixonada pela minha mãe [adotiva]. Hoje, ela anda um pouco confusa pela idade. Minha mãe sofreu por ter me contado. Minha mãe me ajudou muito, tudo o que sou devo a ela. Meu irmão também me ajudou muito. Naquele momento, Deus preparou eles!”, agradeceu Janaína Araújo.
Telefone e Whatsapp de Janaína: (11) 9 4927-8805
Fotos enviadas por Janaína Araújo
Janaina e seu irmão adotivo, Bartolomeu
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