Fotos: Arquivo Pessoal cedidas ao Farol de Notícias

Publicado às 05h57 deste domingo (14)

Marcelo Rodrigues da Silva, nascido em 15 de janeiro de 1961. O filho caçula dos seis filhos de Dona Luiza e Seu Birunga, uma distinta viúva que fez de um tudo para criar os seis filhos, três homens e três mulheres. Maria das Dores, Fernando, Alda, Márcio, Maria das Graças e Marcelo, conhecido entre a velha guarda dos botecos e jogos de bola como ‘Nem Pretim’.

Quando molecote fez tudo e mais um pouco para ajudar a mãe, assim como os irmãos. Todos os serviços disponíveis para crianças espertas e precisadas de ajudar a família com um troco. ‘Nem’ se dispôs a fazer junto com o irmão Fernando, entregar jornal, leite, pão, engraxar sapato e fazer mandados. As irmãs da mesma forma, costuravam, lavavam e passavam para fora.

De Bom Nome à Serra Talhada labutavam para ganhar a vida, fizeram morada na Rua Coronel Cornélio Soares, pertinho do Rio Pajeú. Não sei se era história de boteco ou o orgulho do meu pai, mas há quem diga que Marcelo jogava como profissional, outros só elogiavam a força do chute, era de furar as redes.

É um grande amante dos esportes, torcedor do Sport Clube Recife. Cansei de vê-lo assistir futebol, vôlei, Fórmula 1, Atletismo, Ginástica Olímpica e tudo que mais estivesse passando na TV. Também assistia umas novelinhas à noite, usava o dom de comentarista esportivo para comentar os episódios das tramas globais. Ensaiou ser jogador, fez bonito em muitos times amadores.

Depois quase embarca na carreira militar, mas Dona Luiza, matriarca de respeito, não aprovou e Nem não era nem besta de desgostar a distinta, sábia e amável mãe. Que saudade de Dona Luiza! Foi na antiga Cobal que fez carreira e conheceu seu primeiro amor, até hoje guarda amigos e histórias vividas na empresa da era Collor, presidente corrupto que fechou tudo e botou os funcionários para fora sem direito a nada.

Recém casado, com o primeiro filho pequeno e outra encaminhada, montou com a esposa, Dona Geraldina (finada Gê) uma lanchonete no início dos anos 1990. Por anos tirou o sustento da venda de bolos, doces, comidas típicas, bebidas, brebotes e refrescos comuns da época Crush e Cajuína de garrafa de cerveja. Na Padre Ferraz o arroz vermelho com bode guizado ficou famoso, era o prato que acabava rápido. Muitos dias quem chegava lá para almoçar 11 horas já não pegava o cardápio. Mas sempre tinha um feijãozinho com arroz branco e frango frito, esse é o sabor da minha infância.

Enquanto isso, matava a saudade dos tempos de bola no Clube de Campo Peladão. Se reunia com um monte de quarentão para jogar. De tanto inventar moda arranjou um problema no joelho, carecia operação, mas Nem é capricorniano, teimoso e cabeça dura que só ele não fez a cirurgia. Já estava com três filhos quando enviuvou, duas pequeninas e um rapazote, Emmanuel, Emmanuelle e Érica. Terminados de criar com a ajuda das tias e avós. Passava as tardes na lanchonete jogando dominó, vez ou outra tomando uma cervejinha e assim foi levando a vida de forma pacata.

Oito anos depois de perder a primeira companheira encontrou um novo amor, a professora Andrea Rocha. Sempre esteve ali com Marcelo, cuidou dele quando mais precisou, lhe ajudou a recuperar as forças e reerguer-se na vida. Desse novo amor nasceu a caçula Carmen Heloise, hoje já tem 15 anos, a mocinha do pai coruja. Uma mulher quase feita, mais alta que os irmãos mais velhos, vaidosa que só ela. Uma taurina encarnada e esculpida a genética da família Rodrigues.

Em meio as mudanças boas da vida, recuperou o emprego federal através de um processo de mais de 20 anos passados. Virou um dos encarregados do almoxarifado da UFRPE. De Marcelo e Nem Pretim, agora é conhecido como Seu Marcelo. Um respeitado e querido funcionário da UAST. Homenageado pelas turmas e com duas de suas filhas formadas professoras pela instituição.

Marcelo Rodrigues é um dos homens mais honrados de Serra Talhada. Um pai carinhoso e compreensivo, um marido dedicado, um filho saudoso e um irmão amado. Não sei de muitas das suas histórias, mas guardarei comigo por toda vida os seus conselhos e ensinamentos. As lembranças de fazer seu bigode com ‘gilete bic amarela’ e tirar suas chuteiras e meias suadas nas tardes de domingo quando chegava do Peladão. Vida longa ao meu pai.