Publicado às 04h13 deste sábado (15)

Por Adelmo Santos, Poeta e escritor, membro da Academia Serra-talhadense de Letras (ASL)

Na década de 60 a vida era mais sofrida dentro de Serra Talhada, as famílias eram maiores, éramos em dez na minha casa. Meu pai trabalhava muito pra não deixar faltar nada. Quando era a hora do almoço minha mãe fazia a chamada, para não ficar ninguém sem a comida sagrada.

Nos meus tempos de menino aqui em Serra Talhada, a maioria dos pobres comia macarrão com frango só nos dias de domingos. No Açougue Municipal o pobre só achava tripas, porque as melhores carnes já estavam reservadas pra vender a classe rica. Quando um pobre aparecia pra comprar cheio de esperança, só encontrava as ‘pelancas’.

O “Grande Hotel” era o único que tinha na cidade, e tinha exclusividade pra comprar as melhores carnes. Não havia sacos plásticos, o lixo das residências eram colocados em latas. Foi assim que apareceu no cachorro uma nova raça.

Nessa época o açougueiro era chamado de “Marchante,” quando ele cortava a carne fazia um furo no meio, era muito interessante, o freguês levava a carne pendurada num barbante. Quem comprava meio quilo sofria humilhação, quando saia na rua os cachorros acompanhavam, era um esconde esconde, até chegar à sua casa, com as pessoas perguntando: “- Você vai pescar aonde?”

Não tinha supermercados o comercio era em bodegas e mercearias, era aonde o cidadão fazia as compras do mês pro sustento da família, de quinze em quinze dias. O cardápio como sempre tinha o óleo de salada, já estava acostumado: feijão de corda e arroz, ovo cozido e ‘estralado’.

Nessa época a sardinha era um dos poucos enlatados. Quando a seca apertava a fome deixava marcas, o pobre achava a saída pelas frentes de trabalhos que o governo inventava. Era a famosa “Emergência,” para limpar as estradas. O governo dava a pá, a picareta e a enxada. Depois do serviço feito, era que o governo pagava.