Por Manu Silva, professora, militante do Coletivo FUÁH, Movimento Diverso e repórter/redatora do Farol de Notícias

Publicado às 05h50 deste domingo (21)

Com muito orgulho entrevisto os artistas serra-talhadenses, tem do rock ao sertanejo nas páginas do Farol. Nunca me atrevi a exprimir qualquer opinião sobre música por receio de falar apenas dos meus gostos pessoais. Mas diante da repercussão de uma música que faz apologia ao estupro, não dá para calar. Prepare-se, vai ter ‘mimimi’ feminista, sim!

O funk ‘Surubinha de Leve’, do MC Diguinho e do DJ Selminho como todas as produções do gênero se popularizou rapidamente nas principais plataformas musicais com mais de 13 milhões de visualizações. No final do refrão o funkeiro diz: “Taca bebida / Taca…  / Depois abandona na rua”.

A música é machista, faz apologia a violência sexual e reforça muito a cultura do estupro. O problema não é o funk, gênero de raízes afro-americanas que se tornou a cara do Brasil no mundo. O problema é a descrição violenta e abusiva de cenas que saem do assédio e partem para o crime.

Em menos de um minuto de música fiquei com dor de cabeça. As mais aterradoras imagens de violência sexual que fazem parte dos piores pesadelos das mulheres me vieram a mente.

Abusadores se aproveitando de mulheres que consumiram bebida alcoólica. Esses casos são reais, estão todos os dias nos noticiários do mundo todo.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública registrou em média 135 estupros e 12 assassinatos de mulheres diários em 2016. No total foram 49.497 casos, cerca de 4,3% a mais que em 2015. Em Serra Talhada, o número de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes aumentou 110% de 2016 para 2017. Isso é só o começo.

A versão explícita da música já foi banida do Youtube, Spotify, Sua Música etc. Em seu lugar o MC Diguinho lançou uma versão ‘light’ que afirma:”Só uma surubinha de leve, surubinha de leve / Com essas mina maluca / Taca a bebida, depois taca e fica / Mas não abandona na rua”.  Só a adição da negativa não resolve o problema.

Eu concordo com o mestre Assisão, qualquer produção artística é válida, desde que feita com qualidade e propósito.  “Eu gosto de qualquer música, desde que ela seja boa”, disse ao Farol. Respeito muito o funk, mas essa música é péssima, até a ‘batida’ que faz todo mundo dançar é ruim.

A tal ‘surubinha de leve’ não é só mais um atentado violento a segurança das mulheres, mas é também musicalmente pobre. Há funks melhores (independente se você gosta ou não), com ou sem safadeza. Não gostaria de ver essa música como o ‘hit chiclete’ do Carnaval. A galera gosta de se esbaldar, aproveite! Só não abuse… a mulher!