Por Luiz Saramago, leitor do FAROL  e morador de Serra Talhada

Publicado às 05h05 desta segunda-feira (2)

13 dias depois do assassinato de Marielle, a violência política reaparece no atentado a bala contra Lula e sua caravana, no Paraná. Os episódios ressuscitam certo terrorismo político que marcou a última ditadura no Brasil.

Líder nas pesquisas à presidência, em todos os cenários, o alvo da emboscada é ex-presidente da República. Apesar de tudo isso, o ministro da segurança tem dúvidas se o crime foi político e não vai acionar a Polícia Federal.

O tucano candidato à presidência, Alckmin, justificou o ataque dizendo que o PT colhe o que planta. Alckmin parece interessado na matilha reacionária que habita as redes sociais, a mesma que tentou matar a reputação de Marielle, já morta. Hoje a matilha segue outra liderança. A do deputado fascista Jair Bolsonaro. Com Lula eliminado da disputa, ele fica em primeiro lugar nas pesquisas à presidência.

Em Curitiba, no mesmo Paraná, um dia depois do atentado contra Lula, Jair foi recebido pelo deputado-delegado Francischini. O delegado é da bancada da bala e ficou conhecido por comandar o massacre contra professores que protestavam em Curitiba, em 2015. O saldo foi de mais de 200 pessoas feridas. Na época, era secretário de segurança do governador do Paraná, Beto Richa, o mesmo que não disponibilizou escolta a Lula e minimizou o atentado como “caso isolado”.

Francischini também foi solidário ao atentado contra Lula pois seria contra “uma caravana de bandidos”, sentenciou.

O ambiente para o terrorismo político vem sendo alimentado pela extrema-direita, herdeiros ideológicos do Porão da ditadura de 64-85. O principal aliado de Costa e Silva para emparedar Castello Branco aprofundar a ditadura com o AI-5 foi a anarquia militar patrocinada pelo Porão. *ensaios sobre a cegueira*

O terrorismo político sobreviveu até o último governo do regime. Em 1981, um bomba explodiu, prematuramente, no Riocentro, no colo de um capitão e um sargento do Exército. O sargento morreu na hora.

Segundo levantamento do jornalista Elio Gaspari, em A Ditadura Acabada, a chamada “linha-dura” do regime promoveu 20 atentados a bombas entre agosto de 1980 e o episódio no Rio Centro, em 30 de abril de 1981. Os alvos eram jornais, jornalistas, teatro, livraria, reunião de sindicalistas e duas igrejas

Gaspari estima que foram explodidas mais de cem bancas de jornais em uma dezena de cidades em toda ditadura.

Atualmente, a antiga máquina de “inteligência” do regime responsável pela repressão política é homenageada na figura do general Brilhante Ustra, sádico torturador, que apreciava comandar violações contra mulheres e chegou a levar crianças para presenciar a tortura dos pais.

O herói da extrema-direita recebeu homenagem de Bolsonaro no voto do impeachment e do general Mourão durante sua despedida da ativa, isso na presença do chefe do Exército, que pareceu não se incomodar.

Escondidos desde o fim do regime, grupos de extrema-direita já estão à vontade, incentivando tiros contra adversários políticos. *ensaios sobre a cegueira*

O atentado contra Lula aprofunda a crise iniciada com o afastamento de Dilma e ainda abre brecha para mais radicalização, já que autoridades justificam, relativizam ou incitam atentados fascistas.

Os donos do poder ainda pintam o quadro ilusório da normalidade democrática. Uma ficção.