ManuPor Emmanuelle Silva, estudante de Letras na Uast/UFRPE, militante social e estagiária no FAROL

Atualizado 03 de fevereiro, às 09h32.

“Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar! / (Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)”. Nos versos do poema Mulata Exportação de Elisa Lucinda, retomamos as reflexões sobre gênero, mais especificamente pensando a figura da mulher negra diante do período carnavalesco. Herança provinda desde a colonização do Brasil e os sistemas patriarcais de sociedade que temos desde que o mundo se ocidentalizou, a mulher sempre foi subjugada ao homem, com as grandes navegações, a colonização e o tráfico de sujeitos de países africanos, as mulheres passaram também a ser produto comercial e sexual.

A miscigenação do Brasil, por exemplo, se deu por sequestro e estupro de mulheres negras e indígenas. Já ouvi relatos de diversas famílias que tiveram uma ancestral indígena sequestrada de sua aldeia – pega a cachorro no meio do mato – inclusive na minha família. As mulheres negras que foram escravizadas tinham que suportar, além de toda humilhação e trabalho forçado, ficavam expostas a visitas noturnas de seus “senhores” nas senzalas. Assim nasceram muitos mulatos, termo extremamente racista originado da relação da pessoa negra com a mula.

Em meio a esse cenário de violência sexual, crueldade, submissão e coisificação das mulheres negras é que surge o estereótipo da mulata brasileira. A mulher com plena aptidão sexual, destinada para apenas isso, desfrute. Quando dizemos que o homem ou a mulher negra tem uma inclinação sexual diferenciada, estamos reproduzindo um discurso escravocrata que se apoiava no argumento do sujeito escravizado ser propriedade dos senhores de engenho, por isso podiam fazer o que quiserem com seus corpos, suas mentes, suas identidades.

A discussão da hipersexualização da mulher negra é muito antiga dentro dos movimentos negros espalhados pelo Brasil, por isso é que as negras de luta enfatizam que a “Mulata Globeleza” não representa todas as mulheres negras, não me representa! Essa figura carnavalesca carrega todo esse peso histórico nas costas. A ideia da mulata brasileira foi um estereótipo que surgiu na colonização, e até hoje a imagem que se tem das negras é que têm de estar sempre nuas ou com pouca roupa, ter corpo escultural, ter samba no pé e a sexualidade aflorada, entre tantas outras ideias deturpadas que acabam sendo perpetuadas pelos meios de comunicação de massa e vendidas para o exterior como souvenir para gringos.