Por “Felipão”, faroleiro

Mirandiba, década de 30. Um agricultor e pecuarista tinha um sonho. Seu sonho era que seus filhos conseguissem um dia ter estudo. Um deles, o mais velho ajudava-o na lavoura. Esse menino trabalhou, suou e conseguiu comprar alguns bodes e ovelhas. Era porém pobre demais para viver na cidade, mas tinha uma virtude, era teimoso em tudo que fazia. E foi um homem teimoso. Alistou-se no exército durante a segunda guerra mundial e com isso conseguiu estudo suficiente para entrar na Faculdade de Medicina na Capital.

Formado em Medicina voltou consagrado, radicando-se em Serra Talhada. Era ele homem culto, bonito e bastante educado. Nada parecia aquele garoto do mato que saiu para a Capital. Sua teimosia fez dele um homem de sucesso. Construiu um laboratório médico, o que depois seria um hospital. Casou e teve sete filhos, mas não estava realizado ainda. Homem teimoso, entrou na política. Candidato pela oposição para prefeito na eleição de 1966 discursava no palanque contando a sua penosa infância:

– Quando eu era menino era muito pobre, só tinha uma roupa para vestir e precisava ficar na beira do rio nu esperando minha mãe lavrar a roupa para de noite comer angú com peba que era a única comida que agente comia. Disse a verdade, mas sua teimosia foi motivo de chacota. Fizeram então uma musica que era tocava frequentemente em alusão a sua frase e sua vida. Eis a música. Foi angu com peba / que você comeu / por isso seu dotô / lhe congestionou. Perdeu a eleição para um filho de um deputado da terra. Seus filhos herdaram sua teimosia. Um teimou e foi candidato em 86 para deputado e perdeu.

Outro filho teimou e foi candidato em 88 e perdeu. Em 90 novamente o filho teimou e perdeu de novo. Já em 1992 com o apoiou do deputado e do filho que havia derrotado seu pai conseguiu ser eleito prefeito. Nunca suspeitem da família teimosia. Em Serra Talhada a teimosia faz a força. Aqui ela tarda mais não falha.

OBSERVAÇÃO: Atenção, caro Felipão, este será o último texto que publicaremos seu com assinatura por codinome. Esperamos que você cumpra o acordo que fizemos, precisamos lhe conhecer. Nenhum do nossos leitores/colunistas assinam com pseudônimo. O princípio da isonomia deve ser exercido. Então, te aguardamos!