Por Felipão, faroleiro

Serra Talhada, eleição de 82. Imagine uma mãe gravida de gêmeos. Agora imagine que ela morre e a herança tem que ser repartida entre eles. De um lado estava o filho mais velho, um ex-prefeito homem de muitas obras na cidade, bom de tribuna, bom de voto. Do outro lado estava o mais novo, um ex-prefeito, humilde, amigo dos pobres. Ambos eram apoiados pelo governador Marco Maciel e pelos deputados da terra. O primeiro tinha experiência, estava na politica a mais de 30 anos. O segundo tinha experiência, mas estava na politica a menos de 15 anos.

Para o povo um era velho e o outro era novo e tinha que repartir a herança. Marcado o dia de receber do cartório eleitoral o inventário do município a cidade já sabia quem tinha por direito a herança. No caso seria o velho. Mais tanto na politica como na gravidez ninguém nem mesmo a mãe sabe que nascerá primeiro. Em um comício no meio da campanha no bairro do Alto do Bom Jesus o filho primogênito discursava até que um gaiato provocou:

– Sai daí que tu esta velho demais, disse o gaiato.

– Traga sua esposa que eu mostro a você o quanto estou velho, respondeu o primogênito.

Pronto. O filho respondeu a mãe. Foi o mesmo que um tapa na cara. Perdeu o direito a herança. Era o primogênito mais não o mais querido. Foi tal como a história bíblica de Jacó em pele de cordeiro que foi abençoado pelo pai Issac usurpando a primogenitura de Esaú. Nosso Jacó ganhou a eleição e ficou dono de um reino durante os próximos 20 anos de sua existência. O outro, o primogênito Esaú continuou sendo fiel a sua mãe, mas não era mais o querido e sim mais um filho dos muitos filhos de Issac e Rebeca. Pena que depois disso, seus filhos nasceram em duas nações que se digladiam até hoje, tanto lá como aqui. É o poder da herança.