Por Aldemo José dos Santos, faroleiro

Dá pena vê o Rio Pajeú cheio de lixo e esgoto. Um rio que eu bebia água, nos meus tempos de garoto. A gente tomava banhos numa grande animação, as águas do Pajeú eram praias no Sertão. O rio corria solto derrubava ribanceiras, era limpo sem esgoto parecia cachoeira. Para o povo era costume, tomar banho no Pajeú e mergulhar no curtume. Onde havia uma pedra que era bem frequentada, a gente tomava banho subia nela e pulava. O rio era cheio de praias, alegrias e emoção. Banhava Serra Talhada, era o rio do Sertão. Abastecia a cidade, enchia os potes e os banheiros. Na seca as suas cacimbas davam águas aos sertanejos.

Era um rio cheio de vida, ele era três em um. Rio de Cima, Rio de Baixo, o outro era Rio do Padre onde eu lavei minha alma, e paguei tantos pecados. O Pajeú foi o rio que ficou na minha vida, eu jamais esquecerei aqueles grandes momentos, no seu leito seco ou cheio, que em criança passei. Hoje o rio é poluído, cheio de arame farpado, vítima da ignorância, tem porteira e cadeado. O leito que era limpo está cheio de roçado, sendo um rio desprotegido num lugar civilizado, com Prefeitura, Bombeiros, Ministério Público e Juizado. Mas ninguém enxerga nada, deixando o rio abandonado.

Vendo o rio desse jeito, eu sinto muita tristeza. Dá pena vê o Pajeú sem remanso e correnteza, desaguando na ganância do comercio de areia. Da ponte da caxichola, eu olho pra todo lado, não sei pra que essa ponte, se não corre água por baixo. Eu vejo um rio sem cacimbas, que não tem sinal de vida. É um rio torturado, que perdeu sua alegria. Um rio cheio de tristezas, seus buracos são feridas. Judiado pela a seca, não bastassem os desafios, construíram uma barragem, algemaram o Pajeú, prenderam as águas do rio.

A barragem do Jazigo parece o pantanal, cheia de plantas daninhas. Quem passa pela estrada, não sabe que ali tem água, com tanto mato por cima. Dos três rios que haviam, dos que eram três em um, mesmo de cima da ponte, olhando pra todo lado, eu não enxergo nenhum. Passa um filme em minha mente, e traz de volta o passado, eu comparo com o presente onde atravessei a nado, e concordo com a ponte vendo ela no passado. Uma emoção me domina, meus olhos ficam alagados.