Por Josenildo Mariano de Siqueira, Professor serratalhadense
Inicio o texto lembrando dois personagens consagrados em Serra Talhada. Fui à Fazenda Caiçara acompanhando um amigo que era coroinha, Tony de Seu Bio sapateiro. A missa era celebrada pelo Pe. Jesus Garcia Riaño. Depois da missa, o espanhol não lembrou do seu “Perdon mio Jesus…” tão entoado nas suas celebrações. Ele só não nos comeu vivo porque já tinha passado pra dentro um aribé de coalhada. Tudo isso porque uma porca tinha se esfregado no seu Jeep, um rubro negro (vermelho e preto). Já com o Pe. Thiago, aquele senhor de cabelos branquinhos que celebrava missa na capela do hospital, tive sorte.
Este pediu para eu segurar seu cachorrinho na encomenda de corpo do finado Quincô (teatrólogo), na Cirilo Xavier, em 1973 por aí. Então, o pequinês ‘sarrabuiou-se’ no pó da serraria de Dona Mariinha (in memoriam), que ficava em frente. Ao ver o holandês, apenas disse que “isso era coisa de cachorro mesmo”. Vejam: dois religiosos de características diferentes. Porém amados. Lembrando Dona Mariinha, dizem que relógio de pobre é o da igreja. Mas o da serraria também. A sirene chamava quatro vezes por dia. O apito era de doer nos ouvidos.
O Cabaré de Nivalda
Vamos do sagrado ao profano. Recordo-me de que quando chegava uma remessa de garotas no cabaré de Nilvada, a mesma desfilava com a nova safra nas ruas do centro. Passava no mercado, entrava numa loja e noutra e não comprava nada. A mesma estava mais para divulgar. Quando ia embora passava novamente no mercado, e para não ir de mãos abanando, comprava um pacote de fuba Cativa e um de biscoito Ciranda. Não faço apologia a cafetagem. Mas Nivalda era uma tentativa de fineza, tinha bons modos. Em Roma era romana. Sabia entrar e sair.
Vamos nos divertir? “a noite vai chegar e meu pensamento está tão longe… “Leide teu nome é Zú”. Isso mesmo, Serra Talhada também aderiu, a discoteca era o Dancing Days. A onda veio para sepultar de vez o modismo exagerado da calça boca de sino e do sapato cavalo de aço. Os embalos era de preferência nos sábados à noite (Saturday Night) na discoteca de Madalena (Afrânio Godoy). Jogos de luzes, meiões coloridos, mens club’52. Olha, e era exagerado mesmo. Lembro-me que Rui Grúdi foi além do exagero com a boca de sino. Quando em uma das pernas de sua calça de cor amarela, mau gosto. O mesmo colocou Wbijari Nunes, vulgo Galego de Ulisses. O garoto agarradinho bem escondidinho conseguiu passar despercebido na portaria do Cine Art. Ingresso? Aquele verdinho? Nem pensar, foi façanha, trapaça… sei lá. Passou.
Serra Talhada também enfrentou os apagões programados por três noites seguidas. O racionamento foi de muriçoca pra uns e de diversão pra outros. Na calçada da Majestosa (Sérgio Magalhães/Agostinho Nunes) uma turma (Grupo de Jovens Cônego Tôrres) fazia o show. Rui Grúdi faz a abertura com “Na paz do seu sorriso meu sonho realizo…” de cima do 1º andar alguém diz “valeu Rui”, um tempinho chega a vez de Lila dar brilho a noite “Não mereço você…” era início de carreira de um talento. Uma das mais agradáveis artistas populares do… Não posso delimitar região porque por onde Lila passa, arrasa.
De repente para uma Variant 1, e se aproxima da gente um luso-brasileiro. Esse boy de quem vos falo é uma mistura de Roberto Leal na fisionomia, e fã arrebatado do paulista Antonio Marcos. Era o Tetí Barros “Era uma casa portuguesa toda suja de batom”. Tetí da caçamba é filho de seu João Barros (in memoriam). Seu João tinha a voz mais grave que eu conheci: “amada mio amore é mio…” e Tetí, mal espera o primeiro gole descer, já pede: vai Rui, toca aí velho, “menina de trança”. Pedido feito e atendido. O 1º andar no qual fiz referência era a residência de seu Jared Carvalho (in memoriam), uma família linda. Dona Maria José, a esposa e filhos (saúdo a todos em nome de Viedja, minha ilustre ex-aluna).
Lembro-me que em 1977, na Sérgio Magalhães, eu tive uns pega com Júnior (Dr. Jared Carvalho) e fomos as tapas. De repente aparece a figura pitoresca do Nêgo Arnaldo (in memoriam), e o cara já chegou me esbofeteando, alegando que era irmão adotivo de Júnior de Jarinho. O argumento não me convenceu e nem o resultado da luta. Disseram que o Ronnie Von de Jarinho tinha vencido.Eu queria revanche, mas Hilda enfermeira (in memoriam), que me aplicou uma injeção pra dor de tortura, me aconselhou não andar mais na praça. Segui o conselho da tanajura e estou vivo.
A Virgem e Seu Raimundo Valério
Vamos a parte interativa do texto, e você pode participar. A pergunta é: E a virgem? Quem era e por onde anda? Dicas: Vestia um vestido de croché, touca também de croché combinando. Era de breguice elegância de chamar a atenção. Percorria as ruas do centro da cidade. Virgem… Não sei porque o vulgo. Vamos ao desconforto. Dor não é cultura. É sofrimento. Mas seu Raimundo Valério (in memoriam), é história. Enfermeiro renomado, cuidava… como já dizia o velho João Gilberto “de coisas que só o curação pode entender”. Um amigo, hoje professor aposentado, já tinha apelado para a garapa azeda com Binotal e nada. O jeito foi subir o 1º andar do velho enfermeiro. Que ficava onde hoje é a loja maçônica (Afrânio Godoy). Chegamos lá, era noite de uma segunda-feira, 1979.
O velho, lá de cima da escadaria, de cabeça baixa, olhando por cima dos óculos, esticou o dedo médio, que até parecia a Torre de Paris e fez sinal, chamando o desesperado amigo. Fiquei em baixo. De repente, ouvi um grito que não foi o do Ipiranga. E em seguida o desvirginado amigo desceu. Suado feito um bule, com um objeto na mão, e eu perguntei: O que é isso que tu vem trazendo? E ele disse “é o varal do espelho da cama”. Quebrei cara. Que dor!” Então dei força, já que eu não tinha pomada, dizendo: É a dor da cura, vai passar. Garanto que se na época tivesse a Igreja Universal teria sido melhor ter procurado a cura por lá.
Das peladas no Pajeú
Encerro o meu último texto, refletindo como era gratificante jogar bola todas as tardes nas areias claras do Pajeú. Ver numa tarde de domingo Antônio Alexandre Show, um programa de calouros e outras atrações em que o apresentador, o extrovertido Antonio Galinha, em dublagem mímica ser a principal atração com “você vai me matar de rir fazendo cócegas”. Ver uma disputa no futsal na quadra do Cônego Tôrres entre dois craques fenomenais: de um lado Duda de Luis de Cecilia representando a irmandade dos caroços. Do outro lado, Marcílio, um magrelo raquítico de habilidades socráticas defendendo as cores do projeto sertanejo. Hoje fico triste ao ver o Pajeú tomado de cercas. Mui amigo vendendo areia a amigo. Tetí da Caçamba que o diga, foi vítima.
Menino na quadra do Cônego, que corre com a bola no pé e para na boca do gol para atender o celular. Alvenarias em calçadas que são públicas, ao alcance dos olhos das autoridades competentes. Nossa cidade, sem ter uma via de acesso digna. Todas são deficientes, e uma inconveniente. Aquela que fica ao lado do Posto 411, dar-se a impressão que você está saindo do motel. Mesmo assim, assumo que não amo a terra onde nasci. Mas respeito muito. Recife – 1964. Agora amo a terra onde milagrosamente nasci novamente. Em 1968, fui vitimado e quase dizimado por uma Difteria (crupe). O médico que cuidou de mim foi o ex-deputado Inocêncio Oliveira, do qual guardo o receituário com zelo. Mas doarei ao médico ou aos familiares, se de interesse for. Para que se possível seja exposto em um futuro memorial, quem sabe. Já que o mesmo alcançou destaque na vida pública no país.
Agradeço a Giovanni Sá e a todos os leitores de forma especial. Afinal vocês tiveram muita paciência. Só lembrando, gente. Quem cuidou de mim foi o médico Inocêncio Oliveira e do outro Professor foi Seu Raimundo Valério. Sim! Ia esquecendo… e a Virgem?
23 comentários em OPINIÃO: Histórias que vão do sagrado ao profano e as boas lembranças de ST