Giovanni FilhoGiovanni Filho é jornalista e mestrando em Comunicação Social

É uma nódoa. Por mais que esfregue, rebole, enrole ou renegue, o prefeito Luciano Duque (PT) ainda vai penar para desgrudar da irritante sombra do ex-prefeito Carlos Evandro. Atualmente criador e criatura estão rachados e cogita-se, nos bastidores, que o ex-gestor lance a esposa e ex-secretária de Saúde, Socorro Brito, para bater chapa com o PT em 2016.

O fato é que, até lá, Luciano se verá assombrado por obras deixadas pelo antecessor que ficaram como missão de término na atual gestão. Não é um contrassenso. Em 2012, um Duque bastante fiel ao seu progenitor político anunciava que representava ali o nome da continuidade. E que o projeto oposto, então encabeçado pelo deputado Sebastião Oliveira (PR), iria mitigar tudo o que Carlos havia deixado.

Duque só não contou que o seu discurso do medo contra Sebastião, na época, pudesse ser tão nocivo contra ele mesmo agora. Amargando resultados negativos em pesquisas de opinião e se autocomiserando por ter pago cerca de R$ 10 milhões em dívidas do ex-padrinho, Luciano ainda terá uma penca de ações e projetos engatilhados pelo ex-gestor para remexer. Isso fustiga a tese de que um governo eminentemente duquista nasceu após a separação.

A creche do bairro Vila Bela, a central do Samu, a cozinha comunitária do Bom Jesus, a creche da Caxixola e o ginásio de esportes do colégio Cônego Torres são apenas algumas das obras com um ferrete carlista com previsão de serem inauguradas ao longo dos próximos dois anos da gestão Duque.

Uma das poucas grandes coisas finalizadas, até agora, por Luciano também carrega nas veias o DNA do ex, como foi o caso da creche no bairro Ipsep. A sombra de Carlos Evandro vai emergir por trás do atual prefeito toda vez que ele tomar para si qualquer obra com a pigmentação do antecessor. Será como um chiclete grudado na sola do sapato.

No final das contas, para um governo ainda desnutrido de esmero, mas já tão ameaçado pelas sombras do passado, a melhor estratégia é esconder quem de fato lançou qualquer semente na horta em outras eras. Num paradoxo, é o que vem sendo feito. Nestes quase dois anos de Idade Média em Serra Talhada, para Luciano Duque só existe presente e futuro: está excomungada a emulsão, ainda que arquejemos, até o momento, com heranças de espectros e subsídios estaduais.