A mais de quinze anos o Jornal de Desafio publicava uma matéria, de autoria de Giovanni Sá, intitulada “O vale dos esquecidos”, o foco central estava ligado aos diversos problemas enfrentados pelos moradores do bairro do Mutirão, merecendo destaque a falta de saneamento básico e a urbanização.

Passados tantos anos, o conteúdo daquela matéria continua extremamente atual, tudo porque aquela comunidade continua sendo esquecida. Os problemas existentes são os mesmos de outrora, falta saneamento básico, urbanização, programa sociais que possam amenizar os graves problemas que atormentam aquele bairro, mas falta principalmente respeito.

O Mutirão é um retrato fiel do que os nossos gloriosos e dignos políticos pensam e praticam, eles que buscam exclusivamente a realização de suas fantasias e desejos políticos, mesmo que sejam obscenos e pervertidos. Pra eles quanto maior é a miséria, maior é o lucro político. Por isso que vários são os que se propõem a serem os salvadores do “vale dos esquecidos”.

É impressionante como uma comunidade é tão lembrada em períodos eleitorais, são tantos os apertos de mãos, entregas de feiras, promessas de empregos, promessas de melhorias, milhões de reais em investimentos…. É como se o Mutirão fosse virar um paraíso! Mas basta passar a eleição para que a realidade continue sendo vista e sentida, de forma cruel e humilhante, por cada morador daquela comunidade.

Os moradores estão fazendo a parte deles, provocam reuniões com autoridades ligadas a órgão do governo estadual, políticos, imprensa e órgãos da justiça, porém nada sai do papel, ou melhor, fica no discurso. Atualmente dois deputados estaduais disputam o controle da importante obra de urbanização que vai mudar a história daquela região. Obra que vêm sendo anunciada a mais de seis anos. O problema é que nem os moradores e nem os demais serra-talhadenses acreditam que essa obra sai em sua totalidade em tão pouco tempo, mesmo sabendo que esse é um eleitoral.

Isso se deve a boa vontade dos políticos, que realizam os projetos em generosas parcelas, com intuito de usufruir de cada metro de esgoto, de cada centímetro de cano ou de cada paralelepípedo colocada em uma rua, transformando pequenos e singelos gestos em bandeira política e em uma máquina de fazer votos. Mas até quando os esquecidos irão assistir a essa novela sem fim? Será que eles terão que abandonar suas casas e renegar as suas vidas para deixarem de serem usados como objeto de manipulação e interesse político?

A solução desse problema não é tão difícil assim, além da vontade política, basta que o melhor governo do país, aquele que cuida muito bem das rodovias estaduais, da saúde, da segurança e da educação pública, assuma o seu papel de executor, e determine a imediata conclusão das obras. Diante desse cenário de total degeneração, cabe ao senhor Governador do Estado à resolução do problema, afinal de contas, ele têm o poder e está acima do bem e do mal.

O importante disso tudo é a busca da valorização e o resgate da dignidade de todos os moradores e moradoras do bairro do Mutirão. Não podemos esperar por mais uma eleição para que os problemas sociais lá existentes sejam novamente jogados nas nossas caras ou que surja um novo salvador do “vale dos esquecidos”. Os problemas daquele bairro são também de todos os serra-talhadenses, por isso precisamos expressar nossa indignação e cobrar das autoridades competentes uma postura decente e de respeito, porque só assim poderemos evitar o surgimento de novos “vale dos esquecidos”.

Paulo César é professor especialita em História Geral e bacharelando em Direito