*Goottemberg é professor

O neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado. Segundo seus defensores, a presença estatal na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Para que os países da América Latina ficassem em sintonia com os acordos do consenso de Washington foi, portanto, necessário mudar a maneira de atuação dos seus Ministérios da Educação, transformando-os em órgãos apenas de planejamento e coordenação da política educacional, passando a responsabilidade de normatizar e redistribuir para a união.

 Isso acontecia nos anos 80, pois a partir da década de 90, houve essa mudança que na verdade não melhorou significativamente a educação desses países, inclusive, a do Brasil onde as necessidades da escola cresceram sobremaneira que, hoje, está beirando o insolúvel. O propósito do CONSENSO DE WASHINGTON era preparar a educação para ser entregue a iniciativa privada. Com isso o Estado Brasileiro enfraqueceu as instituições sociais, tornando os serviços públicos cada vez mais precários, penalizando a população mais carente. Ao mesmo tempo, aperfeiçoava novas formas de clientelismo, especialmente nas relações com as entidades privadas na esfera educacional: fundações, institutos de ensino, empresários de equipamentos e informática, editoras, empreiteiras, empresas de propaganda oficial e empresas do setor de alimentação escolar.

Portanto, a natureza do processo privatizador excludente não está fora do Estado, senão dentro de sua própria estrutura e nos acordos pactuados com as forças econômicas, político-partidárias que o constituem historicamente.

O que pude perceber, ao longo desses últimos anos, é que o neoliberalismo acenou com perspectivas que não se concretizaram. Imaginou-se um mundo integrado economicamente e sem fronteiras. Uma educação capaz de formar cidadãos livres e conscientes, um mundo mais justo para todos. Os seus defensores apregoaram que as novas tecnologias e métodos gerenciais promoveriam o aumento geral da produtividade, o bem-estar dos indivíduos e a redução das desigualdades entre as nações.

Entretanto, o que acontece está muito longe das previsões que eles fizeram. Os pobres continuam pobres e os ricos cada vez mais ricos.   Com freqüência, as reformas neoliberais não trouxeram progresso nem melhoraram a distribuição de renda. Em muitas nações, o analfabetismo cresceu na mesma proporção da miséria, atingindo índices alarmantes, principalmente na América Latina.

Entendi ainda que, no Brasil, ao invés do sistema neoliberal inserir a educação em novos patamares de qualidade e atuação, como efetivamente aconteceu na indústria, por exemplo – a mentalidade mercantilista apenas degradou mais ainda o já baixo nível do ensino em nosso país, colocando- o em um dos mais ínfimos patamares educacionais no mundo. Agora, para que o país recupere a qualidade do ensino público da década de 1960, ainda serão necessários muitos anos de trabalho. Valeria a pena colocar a educação como prioridade máxima na estratégia de médio e longo prazo do país – apesar dos interesses em contrário, já que um povo ignorante é mais facilmente manipulável.

Neste sentido, é preciso afirmar os desafios que estão colocados para os educadores: primeiro, a educação, de acordo com a constituição, no seu artigo 205, é um direito do cidadão e um dever do Estado e da família; segundo, os valores humanos são essenciais à vida em sociedade para que a ética e moral sobrevivam entre as pessoas; terceiro, que esses valores não sejam substituídos por valores comerciais e de mercado; quarto, os investimentos públicos para a ciência, cultura e tecnologia são vitais para trilhar os caminhos de emancipação e soberania, a fim de que possamos nos posicionar com autoridade de interlocução diante de outros países; a sociedade capitalista de classe, com tantas desigualdades sociais, regionais e locais, a organização da sociedade civil é vital.

Portanto, a luta dos movimentos sociais, populares e sindicais fortalecida e redefinida pelos trabalhadores e em defesa dos seus direitos, tem longas batalhas pela frente. E, sobretudo, entender que esse cenário nebuloso da educação brasileira, crise programada, segundo Darcy Ribeiro, precisa ser mudado. Mas isso só acontecerá se um dia o mau-caratismo infiltrado na educação desaparecer e assim poderemos sonhar com a construção de uma escola que promova  cidadania ativa para todos.