O cair da tarde desse sábado (8) foi mais que especial para milhares de serratalhadenses. Afinal, foi o dia de encerramento da festa da padroeira, Nossa Senhora da Penha. Após 222 anos de tradição o ritual é o mesmo, contrariando as tendências deste século 21. Calçadas são decoradas para passagem do cortejo, janelas se abrem  e toalhas azuis são expostas, ruas recebem bandeirinhas e a emoção toma conta de cada um que, mesmo de forma involutária, entre na procissão.

Ainda mais verdadeiro é ver as pessoas professando a sua fé. Muitos caminham descalços e dão um testemunho explicito da presença da padroeira em suas vidas. Afinal, fé é algo que não se explica. Apenas se cultiva. No final, em frente a imponente Matriz da Penha, na praça Barão do Pajeú, começa o adeus a Nossa Senhora. “Ó Virgem mãe pura e bela, a esperança do cristão. Recebe ó Virgem da Penha, o nosso filial coração”.

Este é um dos trechos do hino da santa, entoado neste sábado por milhares de pessoas que tremulavam lenços brancos, acenavam e batiam palmas enquanto a imagem da Penha, num ritual secular, entrava na igreja. Foram vivas e vivas a padroeira em demonstração de fé coletiva, em que alguns não religosos podem até discordar, mas que merece um profundo respeito. Principalmente, se levarmos em consideração que a maioria que vai às ruas são trabalhadores e trabalhadoras que vivem um cotidiano de dificuldades. Afinal, são poucas as alegrias e muitas as dificuldades.

Cantar e rezar à Virgem da Penha é provar que sobreviveu aos encantos dos políticos demagógicos, a falta de calçamento e saneamento básico, a falta de respeito de quem deveria representar e não se “eternizar” no poder. Enfim, a catarse provocada na procissão é típica de quem se vangloria de contar, pelo menos, com as bençãos dos céus. Mais uma vez fui testemunha de um coro de emoções. E mais uma vez me deixei contagiar pela emoção de milhares de seres humanos. A sua benção, “virgem mãe pura e bela”. Que a vossa força nos fortaleça. Que a vossa força nos proteja nesta dura caminhada.