Por Magda Carvalho, professora da escola Irmã Elizabeth em Serra Talhada

Mentir ou não mentir: eis a questão. Mais de 23 mil servidores da Educação do Estado de Pernambuco encontra-se em estado de graça devido ao anúncio das escolas contempladas com o Programa de Bônus por Desempenho. De acordo com a Secretaria de Educação, o Governo reservou R$ 60,1 milhões para o cumprimento da Lei nº 13.486 instituída em 2008. No entanto, desde o ano de sua implementação, eu, particularmente, não sei quais são os critérios de avaliação, talvez por displicência de minha parte, uma vez que o tempo que o docente tem é para a preparação de aulas espetáculos que superem o que é de maior interesse do discente como o uso de celular e facebook, o preenchimento de dados em um Diário de Classe, depois em um Diário Eletrônico, a preparação de atividades, impressão, etc, etc, etc, ou então pelo carma de ser “povo”, uma vez que o “povo tem memória curta” e eu como povo também estou enquadrada nesse conceito.

Das 8 escolas da rede estadual de nossa cidade apenas 5 delas foram contempladas, com percentuais que variam de 66% a 100%, isso não implica dizer que as 3 que ficaram de fora da “festa do bônus” não mereçam reconhecimento da população, uma vez que estas também oferecem educação de qualidade aos seus discentes. Com esse texto, não pretendo questionar o desempenho e o merecimento das escolas agraciadas, mas de questionar os critérios de metas. Será pela estrutura física? Talvez não, pois se fosse, o percentual de nossa escola teria zerado ou ficaria abaixo de zero, visto que ela é a única da rede estadual que não recebeu reforma, que continua sem refeitório, sem sala de informática, sem laboratório de química, sem uma quadra de esportes…, por isso acredito que espaço físico não é parâmetro de avaliação, pois aí a culpa seria do Governo e nesse caso, quando a educação “fracassa”, deve haver sempre um culpado, que não é o sistema e muito menos o Governo.

A culpa é “sempre do professor”, que se esbagaça, que doa 25 ou 30 anos de sua vida ao magistério, que passa madrugadas em claro estudando, que é pontual, que é dedicado, que vai para a sala de aula disposto a transformar alunos em cidadãos. Por tudo isso, a culpa é do professor. A culpa é do professor que coloca falta no aluno faltoso, a culpa é do professor que cumpre todas as exigências burocráticas do governo antes do prazo, a culpa é do professor que forma pessoas, professor que não inventa “nota”, a culpa é do professor que chama a atenção do aluno indisciplinado, a culpa é do professor que denuncia agressão verbal ou física, a culpa é do professor que denuncia quando o aluno vai alcoolizado, por isso o professor deve confessar sua “mea culpa” por não receber o bônus e admitir aos demais da escola que falhou, que não foi capaz.

Se o fundamento avaliativo para merecimento do bônus é o resultado dos alunos no SAEPE, faremos tudo diferente a partir de agora. Guardaremos os Best Sellers que tratam de Avaliação como progressão, como oportunidade de reaprendizagem e adotaremos a metodologia do Exame, “prova” que exclui os “fracos” e classifica os “fortes”. Nossas aulas serão pautadas nos descritores e não no currículo imposto pela Secretaria de Educação, nossos alunos serão estimulados à competição, do tipo quem sabe mais, quem é o melhor, pois é assim que funciona nos vestibulares, nos concursos, então assim o faremos e, finalmente, nossa escola passará de 46% a 100%.