Por Cícero Lopes, teólogo e mestrando em Ciências das Religiões

A história do negro no Brasil, e de muitas outras minorias qualitativas, é uma história de dominação e silêncio. Até hoje a discriminação e a segregação racial marginalizam o negro: no emprego, na escola, nos espaços de lazer e nos serviços públicos. É como se vivêssemos numa sociedade unirracial e unicultural, só que em pleno século XXI. Não sem razão a Constituição de 1988, regulamentada pela lei nº.7716, de 5 de janeiro de 1989, assegurou que o racismo deve ser tratado como crime inafiançável.

Desta feita, parece-me válida a tese de Renato Ortiz ao denunciar a ideologia do embranquecimento do negro na sociedade brasileira. Para Ortiz (1991), o negro neste país se ver obrigado a aceitar os valores impostos pelo mundo do branco para poder subir individualmente na estrutura social, de modo que, sua ascensão social depende da negação de sua cultura, costumes, tradições, religião etc.

Não sem razão a Constituição de 1988, regulamentada pela lei nº.7716, de 5 de janeiro de 1989, assegurou que o racismo deve ser tratado como crime inafiançável

Quando se trata da vulnerabilidade social, a população negra também se apresenta como a mais desprotegida. Conforme o Texto-Base da Campanha da Fraternidade/2013 que aborda o tema da Juventude: 70,9% dos jovens pobres do país são negros; sua taxa de analfabetismo é o dobro do que a de jovens brancos, e o número de homicídios no contexto de tráfico e consumo de drogas também é duas vezes maior do que o registrado pelos jovens brancos (CNBB, 2012, p. 37-39). Daí a grande importância das ações afirmativas em benefício da população negra como as que se viram nestes dias em Serra Talhada.

O desafio agora é combater os mecanismos de discriminação e promover a igualdade étnico-racial. Seria interessante, por exemplo, fomentar o estudo e a pesquisa em Universidades do Sertão sobre a Igualdade Racial, no intuito de substituir, aos poucos, as epistemologias opressoras por novas propostas. Na verdade, a sociedade como um todo pode participar, especialmente as Escolas, Rádios, Blogs, Associações, Jornais etc., objetivando a superação de toda experiência desumana do racismo.

Quando se trata da vulnerabilidade social, a população negra também se apresenta como a mais desprotegida. Conforme o Texto-Base da Campanha da Fraternidade/2013 que aborda o tema da Juventude: 70,9% dos jovens pobres do país são negros; sua taxa de analfabetismo é o dobro do que a de jovens brancos (…)

A erradicação do racismo não acontecerá da noite para o dia. Até a década de 70 para se abrir um terreiro era preciso pedir licença a polícia, ou seja, são séculos de repressão e preconceito. A Umbanda é a única Religião originária do Brasil e, embora seja a que mais cresce no mundo afro, é discriminada pelos próprios brasileiros. Mas fico feliz por ver concretizadas em nossa realidade a implementação de políticas que viabilizam a participação legítima da comunidade negra nos processos democráticos do Município. Parabéns a todos que lutam pela consolidação da justiça social e de uma democracia plurirracial e pluriétnica, afinal, vivemos hoje num mundo de diversidades.

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BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil: contribuição para uma sociologia das interpretações de civilizações. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1991.

CNBB. Campanha da Fraternidade 2013: texto-base. Brasília, Edições CNBB, 2012.

ORTIZ, Renato. A Morte Branca do Feiticeiro Negro: umbanda e sociedade brasileira. Brasiliense, 1991.