Seu doutô os nordestino têm muita gratidão

Pelo auxílio dos sulistas nessa seca do sertão

Mas doutô uma esmola a um homem que é são

Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão

É por isso que pedimos proteção a vosmicê

Home por nós excluído para as rédeas do poder

Pois doutô dos vinte estados, temos oito sem chover

Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem comer

Dê serviço a nosso povo, encha os rios de barragem

Dê comida a preço bom, não esqueça a ‘açudagem’

Livre assim nós da esmola, que no fim dessa estiagem

Lhe pagamos ‘inté’ os juru sem gastar nossa coragem

Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão

Quando um dia a chuva vier, que riqueza pra nação!

Nunca mais pensar em seca, vai dá tudo nesse chão

Como vê nosso destino mercê tem nas vossas mãos

(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

Paulo César é professor especialista em História Geral

Em 1963, Luiz Gonzaga gravou a música “Vozes da Seca”, composição feita em parceria com Zé Dantas. A música é uma mistura de discurso político e manifesto. Uma forma poética de denunciar o descaso e a omissão dos governantes no que se refere ao combate à seca. Quase cinquenta anos depois, “Vozes da Seca” continua sendo uma “tapa de luva” na classe política brasileira, pois todos sabem que a seca é um fenômeno climático e que anualmente se agrava em função de fatores climáticos produzidos pela devastação das florestas e pelo alto índice de poluente que são jogados na atmosfera e nos mares, entre esse fatores que alteram o clima do planeta destacam-se o aquecimento global, o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio. O problema especificamente não é a seca em si, mas a ausência de um Programa Nacional de Combate a Seca e de Desenvolvimento do Semiárido Nordestino, pois o que se vê e se ouve são verdadeiras falácias. Em bem verdade que práticas humilhantes como as frentes de emergências acabaram, até porque era inadmissível que a mão de obra paga pelo poder público fosse usada para construir açudes em propriedades das elites política e social de várias regiões do nordeste.

Hoje, o que se percebe é a concretização do que profetizou Luiz Gonzaga e Zé Dantas: “Mas doutô uma esmola a um homem que é são/ Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”(Vozes da Seca), pois essa “esmola” nada mais é do que a “benditas”: bolsa escola, bolsa renda, seguro safra, sem falar da “bolsa candidato 2014”, essa que foi criada pelo governador Eduardo Campos (PSB), que distribuirá R$ 280 em quatro parcelas mensais de R$ R$ 70. Como diria um famoso apresentador de telejornal: “Isso é uma vergonha!” Em verdade que nos últimos anos algumas iniciativas criadas pelos governos Lula (PT) e Dilma (PT) foram importantes, como exemplo a construção de mais de 1 milhão de cisternas. Outra ainda vai levar tempo para que se tenha a certeza da sua eficácia, a famosa transposição das águas do São Francisco. Porém, na minha modesta opinião, por se tratar de governos com vínculos profundos no campesinato sertanejo, o que foi feito ainda é pouco.

Para que os efeitos da estiagem sem sentidos com menos sofrimento é preciso seja desenvolvido um projeto sério e continuo, que priorize a construção de açudes de grande porte; que busque água em novos lençóis freáticos; que incentive a preservação dos leitos de rios, mesmo que sejam temporários; que combata a destruição da caatinga. Na verdade é preciso que se tenha vontade política, sem isso nada sairá do papel e, por muitos anos a música “Vozes da Seca” continuará sendo um grito de dor e a expressão mais pura do desalento do povo nordestino!

EDUARDO CAMPOS E O MILHO PARA OS AGRICULTORES DE SERRA TALHADA – Mesmo o processo eleitoral já tendo passado, o governador – candidato a presidente – Eduardo Campos (PSB), ainda não liberou a distribuição do milho para os agricultores de Serra Talhada. O produto é importantíssimo para os agricultores, já que é usado para alimentar o que sobrou do rebanho de bovinos e caprinos.

DNOCS E SUDENE – Em quanto à seca devasta o sertão nordestino, os representantes dessas grandiosas instituições assistem de camarote, e claro que no frescor de suas salas, de forma inerte, sem apresentarem nenhuma iniciativa que possam merece do povo sofrido um misero agradecimento. O DNCOS e a SUDENE são o retrato da postura dos nossos governantes diante da seca.

DESSA VEZ QUE FARÁ O PAPEL FEITO POR DOM FRANCISCO EM 1997? Infelizmente não temos mais entre nós o atuante e politizado Dom Francisco, bispo da Diocese de Afogados da Ingazeira (1961-2001) e também advogado. Ele foi a única liderança religiosa e popular a se manifestar, em 1997, quando ocorreram as primeiras críticas aos saques feitos por agricultores vítima da seca. Quinze anos depois a possibilidade de que essa iniciativa venha a ser praticada se torna a cada dia mais real, por isso é bom lembrar aos críticos mais ferrenhos que segundo o nosso ordenamento jurídico-penal, não há crime, quando o agente pratica o fato em estado de necessidade, respondendo, embora, pelo excesso doloso ou culposo. (Código Penal, art. 23, I e respectivo parágrafo único).

MUDADO DE ASSUNTO – Cresce nos bastidores a possibilidade de que o vereador Zé Raimundo venha a ser eleito o presidente da Câmara de Vereadores para o biênio 2013-2014. O parlamentar é experiente, irá para o seu quarto mandato, além de ser profundo conhecedor do regimento e dos tramites na Câmara, o vereador também tem bom relacionamento com os colegas da oposição, assim como os da situação.