O Parlamento da Coreia do Sul aprovou nesta sexta-feira (9) a destituição da presidente Park Geun-Hye, envolvida em um escândalo de corrupção que paralisou durante meses o governo e provocou grandes manifestações em todo o país. O impeachment, aprovado por 234 votos a favor e 56 contrários, transfere imediatamente os poderes de Park ao primeiro-ministro, à espera da sentença do Tribunal Constitucional, que deve ratificar ou invalidar a decisão parlamentar.

A definição pode demorar seis meses, período em que Park poderá permanecer na residência presidencial, a Casa Azul. A situação pode prolongar a crise política. “Tanto os que estão a favor como os que estão contra, todos os deputados, assim como o povo sul-coreano, devem sentir-se abatidos” declarou o presidente do Parlamento, Chung Se-Kyun.

Pouco depois da votação, Park Geun-Hye pediu perdão pelo “caos” político no país e pediu ao governo que permaneça vigilante. “Quero pedir desculpas a todos os sul-coreanos por este caos nacional que criei por minha negligência, no momento em que nosso país enfrenta tantas dificuldades, da economia à defesa nacional”, declarou Park na televisão.

A votação desta sexta-feira aconteceu enquanto centenas de pessoas protestavam nas proximidades do Parlamento para pedir o impeachment de Park. “Espero que uma tragédia destas características em nossa história constitucional não se repita nunca mais”, completou Chung.

Park, 64 anos, entra para a história como a primeira presidente sul-coreana eleita democraticamente a não concluir o mandato de cinco anos. Um desenlace inesperado para a política, filha do ditador Park Chung-Hee, que fez campanha como uma candidata incorruptível, que não devia nada a ninguém e estava “casada com a nação”.

O caso que abalou a política sul-coreana envolve Choi Soo-sil, confidente e amiga íntima da presidente, acusada de ter utilizado a relação para enriquecer e influenciar as decisões políticas. Chamada de “Rasputina” pela imprensa, Choi Soon-sil foi detida em novembro e aguarda julgamento por coação e abuso de poder. O processo de destituição é resultado de semanas de crise, durante as quais milhões de pessoas saíram às ruas para pedir aos partidos políticos o afastamento de Park.

A pressão da opinião pública foi fundamental para que um número suficiente de deputados do partido conservador da presidente, o Saenuri, decidissem apoiar a moção ao lado da oposição. A corrupção na cúpula do poder tem sido um grande obstáculo para a democracia sul-coreana e o palácio presidencial não é exceção. Desde as primeiras eleições livres em 1987, todos os presidentes foram objeto de investigações. O ex-presidente Roh Moo-Hyun cometeu suicídio durante a investigação de um caso de corrupção que envolvia sua família.

Em um país onde a classe política tem vínculos estreitos com o mundo empresarial, muitos parentes aproveitam para obter favores. Park se apresentou como uma política diferente. Seu pai, Park Chung-Hee, governou a Coreia do Suk entre 1961 e 1979, quando foi assassinado. Cinco anos antes, em 1974, um atentado matou a sua mãe. Afastada dos irmãos e sem filhos, Park era considerada imune ao nepotismo.

“Não tenho família nem filhos que vão herdar minhas propriedades (…) Quero me dedicar à nação e às pessoas”, afirmou em um discurso de campanha em 2012.  A imagem de uma mulher rigorosa e abnegada encantou a base conservadora do partido governista Saenuri, especialmente os eleitores mais velhos, que a consideravam uma vitoriosa sobrevivente de uma tragédia pessoal.

Com tudo isto, a comoção provocada pelas revelações do caso foi ainda maior.  Os deputados também incluíram como motivo para apoiar a moção de destituição o papel de Park Geun-Hye após o naufrágio de uma balsa em 2014, tragédia em que morreram 304 pessoas, em sua maioria estudantes. A gestão do governo após o acidente foi muito criticada e a imprensa questiona o motivo de Park ter demorado sete horas para convocar a primeira reunião do governo.

Do NE 10