Publicado às 13h56 desta terça-feira (14)

Por Paulo César Nascimento, pastor da Igreja Batista Missionária

Pensei em escrever um texto respondendo aos devaneios e desvarios da mente do colunista “Jorge Apolônio” que, claramente, escreve acerca do que não entende! Lança perguntas tolas e primárias, talvez até achando que está sendo original, não sabendo ele que a apologética cristã lida há séculos com tais questionamentos.

Há uma grande diversidade de livros cristãos que tratam da velha questão da “Teodiceia”, ou seja, da relação entre a santidade e bondade de Deus e a existência do mal no mundo.

Como não gastarei tempo respondendo às suas perguntas, sugiro ao colunista (o qual deseja “sinceramente” obter respostas aos seus questionamentos) que leia os seguintes livros:

“A Razão da Nossa Fé”, do apologeta cristão norte americano, William Lane Craig; “O Triunfo da Fé – Lidando com o problema do Mal”, do teólogo Presbiteriano, Heber Carlos de Campos Jr.; “O Problema do mal no Antigo Testamento”, do teólogo Batista, Luiz Sayão; e, “Fundamentos Inabaláveis” de Norman Geisler e Peter Bocchino.

Como cristão que sou, e, portanto, homem de fé, porém não manipulado pela fé, deixo aqui algumas considerações acerca do que foi escrito pelo colunista:

1. Os questionamentos apresentados no seu texto é fruto de uma mente que não entende, não aceita e não se submete à Soberania de Deus (Jó 1.21; 2.10; 42.1-6). De sorte que, para ateus, este quesito está completamente fora de cogitação. Tais questionamentos são perfeitamente compreensíveis.

Pois, se homens de Deus (Jó, Habacuque, Asafe e outros), ao longo da história travaram grandes lutas e vivenciaram profundas crises de fé, não podemos esperar outra coisa de pessoas que nem sequer creem em Deus. Entendimento, aceitação e submissão ao Governo Soberano de Deus no mundo, é coisa para homens de fé!

Para um homem de fé, experimentar tragédias ou livramentos, viver em abundância ou escassez, morrer ou sobreviver a um acidente não anula o controle e comando de Deus sobre todas as coisas. Após ter perdido todos os bens e todos os seus filhos, Jó disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor tomou; bendito seja o nome do Senhor”. “…,temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (Jó 1.21; 2.10).

Escrevendo aos cristãos de Roma, Paulo disse: “Porque, nenhum de nós vive para si, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Romanos 14.7, 8). Não são as circunstâncias boas ou ruins que definem se devemos crer ou não, continuar confiando em Deus ou não.

Para homens de fé, Deus é o Oleiro, e, nós, humanos, o barro! “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? (Romanos 9.20). Depois da tragédia ocorrida em Jerusalém provocada pela invasão dos Babilônios, o profeta Jeremias perguntou: “Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados” (Lamentações 3.19).

2. O colunista apresenta “as luzes do iluminismo” como a saída para “a tragédia humana resultante da manipulação pela fé”. Apesar de todos os benefícios inegáveis que o Iluminismo (início do século XVII) trouxe para a humanidade, ele jamais deve ser visto como a solução para a tragédia humana, conforme propõe o colunista!

Focado apenas em apontar “a tragédia humana” como resultante da manipulação pela fé, ele agiu com parcialidade e esqueceu de mencionar que o homem “racional”, “iluminado”, “dono da verdade” que descartou Deus, foi e continua sendo o causador de grandes tragédias na história humana.

É preciso lembrar que foi o homem “iluminado” o grande causador da primeira e segunda guerra mundial; foi esse mesmo homem “iluminado” que assassinou, por meios cruéis, seis milhões de judeus; foi o homem “iluminado” que desenvolveu a bomba atômica e lançou sobre duas cidades japonesas (Hiroshima e Nagazaki) em 6 e 9 de agosto de 1945; foi e tem sido o homem “iluminado” que, em nome do progresso, tem poluído nossos rios e fontes de águas; esse mesmo homem “iluminado” tem explorado os recursos não renováveis da natureza; tem emitido gases tóxicos, poluentes e tem provocado o efeito estufa colocando em risco a sobrevivência do planeta e das futuras gerações; foi o homem “iluminado” que desenvolveu aviões caças com portas-bombas para matar seres humanos; são os homens “iluminados” de nações “iluminadas” pelas luzes do iluminismo que tem investido anualmente milhões e, até bilhões de dólares, para aumentar seu poderio bélico; tem sido esse homem “iluminado” que tem aprovado leis para legalizar o aborto, o infanticídio, em nome do direito do indivíduo autônomo; é esse homem “iluminado” que tem praticado as mais grotescas incoerências ao protegerem legalmente ovos de tartarugas e legalizarem o assassinato de embriões e fetos humanos, negando-lhes o direito à vida.

Para esse homem “iluminado”, “racional”, “de mente emancipada”, coisas e animais tem mais valor do que ser humano. Sendo assim, senhor colunista e caros leitores, seriam “as luzes do iluminismo” a saída para a tragédia humana? Não consigo acreditar que seja essa a solução!

Não consigo acreditar que o abando da fé em Deus ou da crença em sua existência seja a saída para a tragédia humana. A história humana, do Iluminismo (século XVII) até hoje (século XXI), tem provado isso!

3. “Conhecereis a VERDADE, e ela vos libertará”, finaliza o colunista. Fica muito claro pela leitura do texto que a “VERDADE que liberta”, na opinião de Jorge Apolônio, é a verdade do Iluminismo! O Iluminismo marca o surgimento da Modernidade. A Idade Moderna é caracterizada, dentre outras coisas, pela emancipação da “Razão” humana.

Os “iluministas” acreditaram e pregaram que é possível chegar ao conhecimento da VERDADE pelo uso puro da razão (o racionalismo de René Descartes) e pelo experimento (o empirismo de John Locke e David Hume). Lembro ao colunista e aos leitores que, há décadas esse princípio do Iluminismo caiu em descrédito.

Mesmo reconhecendo a importância da razão e do experimento, a Idade Pós-moderna, na qual estamos hoje, não aceita nem acredita mais nessa alegação da modernidade. Para o homem pós-moderno, não existe “A VERDADE”; existem “VERDADES”. A “VERDADE” existe num determinado contexto.

A”VERDADE” é uma questão de ponto de vista! Com isso, não estou dizendo que acredito e defendo o “relativismo da verdade”. Apenas estou dizendo que a proposta do colunista de que devemos buscar “a Verdade do Iluminismo” para sermos livres da “manipulação pela fé”, não faz nenhum sentido para os homens pós-modernos.

Pois, cada um de nós tem sua própria verdade, a qual deve ser respeitada e considerada tão válida quanto a do outro. Sendo assim, mais uma vez, a saída para a tragédia humana, não são as luzes do Iluminismo!

4. Os mesmos (no caso aqui, o colunista) que nos acusam de “religiosos emburrecidos” (cristãos católicos e protestantes) “manipulados” pela fé e por crendices, são os mesmos que não possuem pensamentos próprios e têm suas mentes manipuladas pelos pensamentos de grandes filósofos, teóricos, sociólogos e etc. da antiguidade e da atualidade.

Eles nos chamam de “alienados” doutrinados, catequizados pelos ensinamentos de um livro religioso antigo ultrapassado (A Bíblia). No entanto, o que eles seguem? De onde tiraram seus princípios filosóficos e ideológicos que norteiam suas “crenças ou não-crenças” e seu estilo de vida? Qual a base ou o fundamento do que “acreditam ou não acreditam” e “pregam”?

Claramente, eles fundamentam suas crenças filosóficas e princípios ideológicos nos escritos de grandes pensadores da Grécia Antiga, da Europa, dos Estados Unidos da América e de alguns poucos brasileiros. Para tais pessoas, os escritos desses homens são a sua “bíblia”.

Portanto, usando a mesma lógica dos nossos algozes e acusadores, podemos concluir que, eles também têm “sua bíblia ou suas bíblias”, são estudiosos intelectuais “alienados”, doutrinados, catequizados e manipulados pelo pensamento filosófico e princípio ideológico das grandes mentes brilhantes da história antiga e contemporânea!

Concluo, afirmando no que creio ser a saída para “a tragédia humana resultante da manipulação pela fé”. Em João 8.32, Jesus disse: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Aqui Jesus deixa claro que o conhecimento da verdade é libertador!

Mas, o conhecimento de qual Verdade? Da verdade do Iluminismo, conforme propõe o colunista? Não! De modo nenhum! Sob hipótese alguma! Este versículo começa com a palavrinha “e”. Tanto em português como em Grego (língua original do Novo testamento), “e” ou “kai” é uma conjunção aditiva. Isso significa que o versículo citado (João 8.32) acrescenta/adiciona ou conecta a uma informação mencionada anteriormente.

Em João 8.31, Jesus disse para os judeus que haviam crido: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos;” Então, ele segue: “e conhecereis a verdade,…”. Jesus deixou claro que o conhecimento da verdade que liberta é resultado do “permanecer na sua palavra”.

Sendo assim, a saída para “a tragédia humana resultante da manipulação pela fé”, não é o conhecimento da verdade do Iluminismo; mas é o conhecimento dos ensinamentos de Jesus Cristo, das palavras que foram proferidas por sua boca, e, posteriormente, registrada pelos apóstolos.

Quem conhece e permanece nas “palavras de Jesus”, conhece “a verdade”. E, o conhecimento dessa verdade liberta o ser humano de crendices infundadas, de superstições tolas, de orações ou rezas para que Deus interfira no resultado de competições esportivas, de guerras e derramamento de sangue em nome de Deus, de manipulações da fé alheia, de atos violentos motivados pelo ódio, de charlatanismo e enriquecimento ilícito, de resistências e oposições a Deus e aos seus servos, da incredulidade e do pecado que separa o ser humano do seu Criador.