Do Diario de Pernambuco

A Polícia Federal (PF) divulgou que deslocou uma equipe até o Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro, para fazer uma perícia criminal por conta do incêndio que matou, ontem, três pacientes. Duas das vítimas eram mulheres e estavam com covid-19. Uma delas, de 42 anos, estava internada em estado gravíssimo e não resistiu à remoção. Chegou a ser colocada em uma ambulância, para ser levada ao Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, também na zona norte, mas morreu no caminho. A segunda era uma idosa de 83 anos, também em estado grave. Além delas, um homem, de 39, internado no CTI, não resistiu.

O fogo começou no prédio 1 da unidade, no qual se localizam as enfermarias e o CTI. Os bombeiros foram acionados por volta das 9h50 e mobilizaram, ao longo do dia, 12 quartéis. Ainda não se sabia a causa exata do incêndio até o fechamento desta edição, mas ele se deu no subsolo do edifício. Ali, havia um almoxarifado com fraldas geriátricas e papéis — materiais de fácil combustão. “Conseguimos evacuar os pacientes antes que o fogo e a fumaça chegassem à enfermaria”, afirmou o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Lauro Botto.

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Os pacientes foram retirados e levados ao prédio 2 e a outras unidades de saúde. Do total de removidos, 162 foram para o outro prédio, enquanto 66 foram colocados em ambulâncias e seguiram para as demais unidades. Havia oito pacientes infectados pelo coronavírus, incluindo as duas mulheres que morreram. O secretário de Defesa Civil, coronel Leandro Monteiro, afirmou que o hospital funcionava de modo inadequado. Havia duas notificações e dois autos de infração no Corpo de Bombeiros sobre as más condições da unidade. “É muito difícil, quase impossível, interditar um hospital com quase 600 leitos”, disse.

Assim que o incêndio começou, e o prédio foi evacuado, diversas macas com pacientes tiveram de ser abrigadas provisoriamente em uma loja de pneus que fica na frente da saída do hospital. “Não tinha para onde ir. A equipe daqui ajudou, deu boa assistência por 1h30”, conta o vendedor Edailton Gonçalves, de 48 anos. “Parecia até um hospital de campanha.”

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Muita fumaça preta saiu do prédio ao longo da tarde, apesar de os bombeiros terem dito que o fogo estava controlado ainda de manhã. Ana Diniz, de 22 anos, estava na maternidade com o filho de 4 dias e precisou sair do hospital. A sensação, diz, foi de desespero. “A gente estava lá ouvindo os boatos, até que avisaram para nós. Muita correria”, afirmou ela, que temeu pela vida da criança. A cena de mães saindo com crianças no colo foi uma das mais recorrentes ao longo do dia. As que estavam no hospital conseguiram ser liberadas com certa rapidez. O Hospital de Bonsucesso é considerado o principal dos seis federais do Rio.

Estrutura

Um relatório produzido em abril de 2019 por uma equipe de engenheiros, a pedido do Ministério da Saúde, constatou diversos problemas na estrutura de combate a incêndios do local. Um ano e meio depois, nada foi feito.

Em setembro de 2019, de posse desse relatório, a Defensoria Pública da União cobrou providências da direção do HFB para ajustá-lo às normas de segurança. Também solicitou aos bombeiros que fizesse vistoria na unidade. “Depois disso, a Defensoria fez seu papel de reforçar reiteradamente a necessidade de providências”, informou, em nota, a Defensoria Pública da União. “Sobre as razões de as demandas não terem sido atendidas, não temos como responder. Sugerimos que as perguntas sejam encaminhadas aos responsáveis pela gestão do HFB.”

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Questionado, o Ministério da Saúde afirmou, por meio de nota, que o centro médico “tem projetos aprovados e em andamento para realizar uma série de reformas de urgência”. O ministério lamentou a morte dos pacientes e afirmou que a prioridade naquele momento era “zelar pela vida das pessoas e controlar a situação”.

“O hospital já tinha um diagnóstico prévio sobre a situação estrutural do complexo hospitalar, inclusive de toda a rede elétrica — o que vai facilitar a apuração dos fatos que levaram ao ocorrido.”