Do G1

A Polônia vai às urnas no domingo (28) para escolher o presidente do país. Se há semanas o atual chefe de Estado, Andrzej Duda, parecia ter sua eleição garantida, agora ele perde força nas pesquisas, enquanto a popularidade do governo cai em meio à crise do coronavírus. Na tentativa de atrair o eleitorado ultraconservador, ele visitou a Casa Branca e realiza uma campanha de teor homofóbico.

A quatro dias da votação, o presidente polonês, Andrzej Duda, recorreu a Trump num último esforço para tentar reverter a tendência. Ele foi o primeiro líder estrangeiro a visitar a Casa Branca desde o início da pandemia, em março.

Pelo menos na visão do governo polonês e seu eleitorado ultraconservador, o encontro com o presidente americano, na quarta-feira (24), foi um sucesso. Trump atuou como verdadeiro cabo eleitoral e disse palavras mais que amáveis para Duda, exaltando a parceria entre os dois países. O polonês retornou para Varsóvia levando na mala a promessa do deslocamento de tropas americanas para a Polônia.

Depois que Trump havia anunciado a retirada de quase 10 mil soldados estacionados na Alemanha, Varsóvia vinha intensificando pedidos a Washington por uma presença militar permanente dos americanos no país. Trump garantiu a Duda que algumas das tropas retiradas da Alemanha poderão ir para a Polônia.

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Além disso, o chefe de Estado polonês leva para casa a tradicional foto do aperto de mão com Trump nos jardins da Casa Branca, para mostrar a seus eleitores é um estadista que joga na primeira liga mundial.

Coronavírus perturbou campanha eleitoral
A pandemia atrapalhou os planos do governo populista de direita do partido Lei e Justiça (PiS) de reeleger com facilidade seu presidente. Em maio, Duda tinha uma ampla vantagem sobre os outros candidatos. Mas aí veio o coronavírus. Sabendo disso, o governo tentou de todas as maneiras manter a data do pleito, mas não conseguiu.

Nesse meio tempo, o carismático prefeito de Varsóvia, o liberal Rafał Trzaskowski, entrou no páreo, para concorrer pelo principal partido de oposição, o Plataforma Cívica. Desde então, ele vem subindo nas pesquisas, empurrado pela crise econômica provocada pela pandemia.

Atualmente, Duda tem entre 40% e 43%, enquanto Trzaskowski está entre 27% e 30%. Caso ninguém consiga a maioria absoluta, haverá uma segundo turno em 12 de julho. E na segunda rodada as sondagens mostram os dois candidatos tecnicamente empatados.

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A vitória da oposição enfraqueceria bastante o governo, que é chefiado pelo primeiro-ministro. Na Polônia, o presidente não tem o poder de propor leis, mas ele pode impedir a aprovação delas com seu veto.

A derrota de Duda seria mais um fator de enfraquecimento do governo nacionalista, comandado pelo ultraconservador Jarosław Kaczyński, considerado o político que realmente manda no país. O PiS venceu as eleições parlamentares de outubro passado, mas perdeu parte de sua força no Parlamento, ao perder a maioria que tinha no Senado, ficando dependente de negociações com partidos menores para aprovação de leis.

Campanha homofóbica

Tentando reverter a tendência de queda na preferência do eleitorado, Duda lançou neste mês um texto chamado “Carta da Família”, afirmando querer defender as crianças contra o que chama de “ideologia LGBT”, que diz ser uma “ameaça pior do que o comunismo”.

O presidente defende que o casamento só pode ser realizado entre uma mulher e um homem, citando o papa polonês João Paulo II, uma “autoridade moral” polonesa, que era contra o casamento de pessoas de mesmo sexo.

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O tom desse programa lembrou em muito a campanha de teor homofóbico lançada pelo governo no ano passado, que rendeu bons frutos eleitorais nas eleições europeias e para o Parlamento.

Dessa forma, Duda esperava mobilizar novamente seu eleitorado mais conservador, nas áreas rurais, conservadoras e mais a leste do país. Mas as declarações causaram controvérsia e parecem não ter funcionado.

Por isso, o presidente resolveu adotar um tom mais moderado nos últimos dias – um sinal aos eleitores mais cosmopolitas que tendem a votar em seu adversário. Resta agora saber se a visita à Casa Branca pode funcionar como uma última cartada, tendo Trump como coringa.