Após os maiores protestos desde 2012 na Rússia, os eleitores de Moscou deram um recado ao presidente Vladimir Putin na eleição para a Duma (Parlamento) local da capital do país. O partido de Putin, o Rússia Unida, perdeu espaço na assembleia: tinha 38 representantes (10 deles independentes, mas apoiados pela sigla) e no domingo (8) elegeu 26.
É suficiente para manter o controle da Duma, que tem 45 deputados, mas altamente simbólico dada a natureza dos protestos que chacoalharam Moscou por vários fins de semana seguidos desde junho, quando a Comissão Eleitoral barrou diversos candidatos de oposição do pleito.
Vários deles eram ligados ao blogueiro e líder oposicionista Alexei Navalni, que foi detido por organizar protestos sem autorização.
A justificativa da comissão era formal, como falta de assinaturas consideradas plausíveis para o registro das candidaturas. Os preteridos alegam que foram excluídos por perseguição política, e organizaram grandes protestos todos os sábados, levando a um aumento da repressão policial -centenas eram presos a cada fim de semana, e seus líderes acabaram processados, sujeitos a penas de até 25 anos de cadeia.
Sem seus representantes nominais, a oposição não só deu apoio a partidos tradicionalmente contrários a Putin, como o Iabloko, mas também fez campanha por qualquer candidato que tivesse possibilidade de derrotar os nomes do Rússia Unida em cada um dos distritos eleitorais moscovitas.
Assim, nomes conhecidos, como o de Andrei Metelski, o presidente do Rússia Unida em Moscou, acabaram derrotados por desconhecidos. Os dados sobre a nova composição da assembleia ainda são parciais, tendo sido divulgados pela agência estatal RIA.
Além dos desconhecidos, o Iabloko e o Partido Rússia Justa ganharam três cadeiras cada um. O Partido Comunista subiu sua representação de 5 eleitos em 2014 para 13.
Houve eleições em todo o país, mas o pleito moscovita era o mais aguardado. A Duma em si não tem quase poder algum e é cedo para dizer se a votação se refletirá em um movimento que atinja eleições parlamentares, mas o encolhimento do Rússia Unida na capital é um sinal claro para Putin.
O presidente, reeleito pela quarta vez em 2018 e que teoricamente terá de deixar o Kremlin em 2024, enfrenta uma queda em sua popularidade. O país tem dificuldade de se recuperar da recessão que o atingiu até 2016, crescendo apenas entre 1% e 2% desde então.
Putin vem sendo bem-sucedido em suas empreitadas de política externa, mas questões domésticas, como a adoção de uma reforma previdenciária que aumentou a idade mínima para a aposentadoria, o afetam: dos cerca de 80% de popularidade que vinha exibindo, hoje ele está na casa dos 60%.
Descrita no exterior como um regime autocrático, a Presidência de Putin tem na aferição da popularidade do líder um fator central para sua sustentabilidade. É um consenso entre analistas que a divisão de poder que ele estabeleceu entre as elites, criando disputas faccionais enquanto controla o sistema por cima, tem seu limite no quão popular Putin for.
Desta forma, uma combinação entre mais repressão contra ativistas e medidas populistas é bastante provável nos meses que se seguirão. Putin não tem um sucessor apontado, e muitos especulam se ele mudaria a Constituição para tentar permanecer no poder -algo que se recusou a fazer no passado, quando deixou o cargo e assumiu o de primeiro-ministro no governo de seu pupilo Dmitri Medvedev (2008-2012).
A oposição, apesar da vitória de domingo, não está em melhor forma. Não há um nome que agregue as diversas correntes anti-Putin, e Navalni é um nome com baixa penetração nacional -pesquisas sempre deram a ele quase traço de intenções de voto a presidente, ainda que ele tenha sido barrado de concorrer em 2018 por ter uma condenação judicial que diz ter sido uma armação de Putin.