Do G1

Foto: Adriano Machado/Reuters

A relação entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o vice-presidente, Hamilton Mourão, vive a pior fase desde o começo da gestão do presidente da República. A avaliação é de assessores presidenciais ouvidos pelo blog, que enxergam um “clima de conspiração” no entorno do presidente e do vice, principalmente sobre a arquitetura de um eventual impeachment.

Esses interlocutores do governo avaliam ao blog que Bolsonaro vem aproveitando declarações públicas para sinalizar que, em 2022, Mourão não será seu vice e, por isso, acreditam que o vice-presidente passou a externar a irritação por não participar mais do governo, mas sem patrocinar uma ameaça de impeachment.

“Eles têm duas saídas agora: ou sentam e resolvem ou viverão de aparências até 2022”, disse um militar ao blog.

Ontem, a revelação do site O Antagonista de que um assessor de Mourão estaria sondando deputados para tratar do impeachment reforçou as teorias bolsonaristas de que o vice trabalha para derrubar o presidente – o que não só o vice como os próprios militares que circulam entre os dois rechaçam.

Dois dos filhos do presidente alimentam essas teorias, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), que já fizeram críticas públicas a Mourão. O vice, por sua vez, já ironizou o Eduardo publicamente quando o parlamentar arrumou mais uma confusão diplomática com a China.

Ao blog, militares da ativa e da reserva reforçam que Mourão, apesar das críticas de Bolsonaro, tem sido leal desde o início do mandato, e ficou irritado com a movimentação do seu assessor.

Esses militares também fazem elogios ao currículo de Mourão e reconhecem que o presidente fica irritado pois Mourão costuma ser elogiado por empresários e políticos em matérias de jornais e também nos bastidores como “mais preparado” do que o presidente. E Bolsonaro, como ele deixa claro, não gosta de ministros e assessores elogiados pela imprensa.

Sem clima

Na avaliação de líderes partidários, hoje não existe clima político no Congresso para o impeachment. O tema ainda tem como principal patrocinador a oposição e, por isso, o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebate críticas de que não abriu um processo apesar dos vários pedidos que tem sob sua mesa. Na avaliação de Maia, mesmo se abrisse, sem apelo popular e maioria no Congresso, Bolsonaro correria o risco de se fortalecer após o processo, como aconteceu com Donald Trump nos Estados Unidos.

Um experiente presidente de partido do Centrão costuma repetir que “ninguém tira presidente com 30%, 40% de aprovação e sem gente na rua”. E que Bolsonaro, hoje, se rendeu ao sistema político exatamente para sobreviver politicamente, mesmo que isso signifique abandonar suas bandeiras de campanha, como faz ao firmar um casamento com o Centrão.

Ocorre que líderes desses partidos, de forma reservada, costumam repetir também que um novo agravamento da pandemia pode “causar uma comoção maior do que a política”. E, aí, entre Bolsonaro e suas próprias sobrevivências, os deputados optariam pela segunda opção.

Por isso, acham um erro estratégico do Planalto acreditar que um deputado aliado na presidência da Câmara é garantia eterna para barrar impeachment. É uma garantia, mas não vitalícia: desde que o governo consiga se manter com um percentual de popularidade, sem protestos de rua e com a economia andando. Por isso, o governo busca também uma saída para renovar o Auxílio Emergencial, que garantiu apoio da população mais vulnerável ao presidente durante a pandemia em 2020.