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Saiba a história real do santo e a ligação com as festas juninasImagem: Sidney de Almeida/Getty Images

Depois de Santo Antônio, o “santo casamenteiro”, no dia 13, São João dá continuidade às celebrações no mês de junho.

Ele é o segundo —e, provavelmente, o mais conhecido— religioso homenageado nas festas juninas. São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho, finalizam as comemorações mais conhecidas.

Mas, afinal, quem foi São João e por que a fama deste santo é tão grande, a ponto de cidades como Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, quererem para si o título de donas do “maior São João do mundo”?

Quem foi São João?

São João é João Batista, o homem que, de acordo com a Bíblia, batizou Jesus Cristo. Ambos teriam sido parentes, já que suas mães, Maria (de Jesus) e Isabel (de João Batista) seriam primas.

João Batista era só seis meses mais velho do que Jesus, mas pavimentou o caminho pelo qual percorreria a grande figura católica.

“Ele se tornou um profeta que anunciou Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus. Ele tinha influência como pregador. Tanto que ele é conhecido nas tradições bíblicas como a voz que grita no deserto e é testemunha da luz, que é Jesus”, explica Felipe Cosme Damião Sobrinho, padre e professor na faculdade de teologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Seria, então, João Batista uma espécie de concorrente de Jesus? Muito pelo contrário, dizem especialistas.

“Ele não tinha a pretensão de ocupar o lugar de Jesus. Tanto que, quando surge a pregação de Jesus, ele se retira de cena. Ele se destaca por ser um profeta, mas ele precede Jesus. Há uma diferença básica, talvez, no conteúdo porque toda a pregação dele é sobre conversão, que o Messias está para chegar. E, quando o Messias chega, ele diz que o tempo acabou”, aponta Fábio Enrique de Souto, padre e professor da Universidade Católica de Brasília.

O fim da vida de João Batista foi trágico. Ele foi preso a mando de Herodes Antipas, espécie de administrador da região. Salomé, filha de Herodes, posteriormente pediu que João Batista fosse decapitado. A morte do futuro São João teria acontecido em 29 de agosto do ano 29.

Data é atrelada ao Natal

Se a morte de João Batista teria sido em 29 de agosto, por que se comemora o dia de São João em 24 de junho, e não no dia de sua morte como para tantos outros santos? A resposta está em dois fatos peculiares.

O primeiro é que São João é um dos poucos santos venerados na Igreja Católica que possuem duas datas litúrgicas: a de nascimento (24 de junho) e a de morte (29 de agosto). O mais comum é que a data “oficial” da festa seja a da morte do santo, casos de Santo Antônio, Santa Rita de Cássia, São Jorge, entre outros.

Como São João é conhecido como “anunciador”, o nascimento do santo também é motivo de festejos litúrgicos pela igreja.

“É justamente porque ele é o personagem que anuncia imediatamente Cristo na sagrada escritura. Ele é o precursor de Jesus, no nascimento, na missão e também na morte”, diz Sobrinho.

O segundo fato é que, de acordo com a tradição, João Batista seria seis meses mais velho do que Jesus. Como o Natal ficou convencionado para o dia 25 de dezembro, o nascimento de São João ficou “acordado” para 24 de junho.

“Não dá para dizer que João Batista nasceu, mesmo, em 24 de junho. A data foi firmada em torno do século 4º”, completa o professor da PUC-SP.
A origem das festas

Como a data do nascimento de São João Batista foi convencionada, é possível supor que, a exemplo da Páscoa, o dia de São João foi ressignificado. Historicamente, o 24 de junho cai dias após o solstício de verão no hemisfério Norte.

“As festas, na Europa, estão ligadas à colheita. São festas pagãs, mas não há como precisar, historicamente, como isso começou. Posteriormente, por volta do século 12 ou 13, o catolicismo se apropria e insere o tempo litúrgico nessas festas”, afirma Valéria Rocha Torres, doutora em ciências da religião pela PUC-SP, mestre em história pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e professora da Unipinhal (Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal), todas em São Paulo.

As festas juninas são bem emblemáticas porque trazem essa alegria da devoção. A colheita é vida, então, a festa junina traz isso.

Valéria Rocha Torres, doutora em ciências da religião

A festa de São João, então, ganhou corpo dentro da Igreja Católica. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, a partir de 1500, trouxeram, além das tradições católicas, as festividades religiosas.

“Os portugueses tinham as chamadas festas joaninas. No Brasil, fomos secularizando e transformamos em festa junina, de mês de junho. Há grandes influências da cultura indígena nos alimentos à base de milho, mas se conserva a tradição portuguesa e europeia das quadrilhas”, acrescenta Enrique de Souto.

A força de São João, sobretudo na região Nordeste do Brasil, tem ligação com a colonização do Brasil. Lá houve um enraizamento da cultura portuguesa, com São João sendo forte principalmente no interior com o catolicismo popular na vida do sertanejo.

Fogueira de São João

No imaginário popular e religioso, muitos santos são atribuídos a símbolos e a capacidades. São Jorge é o santo guerreiro; Santo Antônio é o santo casamenteiro. E São João? Além de João Batista ser associado com a imagem do cordeiro —pelo fato de anunciar a vinda do Cordeiro de Deus, isto é, Jesus—, o santo tem ligação com a fogueira.

“A fogueira é acesa no dia 23 para o dia 24 como o sinal da luz. João Batista é o homem que pregará a luz do homem. É por isso que se tem as fogueiras nas festas juninas”, explica o padre Felipe Sobrinho.

Além disso, há uma outra razão, segundo Souto: a mãe de João Batista, Isabel, teria feito uma fogueira para avisar Maria que estava prestes a parir e precisava de ajuda.

Oração de São João

Glorioso São João Batista, que fostes santificado no seio materno, ao ouvir vossa mãe a saudação de Maria Santíssima, e canonizado ainda em vida pelo mesmo Jesus Cristo que declarou solenemente não haver entre os nascidos de mulheres nenhum maior que vós; por intercessão da Virgem e pelos infinitos merecimentos de seu divino Filho, de quem fostes precursor, anunciando-o como Mestre e apontando-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, alcançai-nos a graça de darmos também nós testemunho da verdade e selá-lo até, se preciso for, com o próprio sangue, como o fizestes vós, degolado iniquamente por ordem de um rei cruel e sensual, cujos desmandos e caprichos havíeis justamente denunciado.

Abençoai todos os que vos invocam e fazei que aqui floresçam todas as virtudes que praticastes em vida, para que, verdadeiramente animados do vosso espírito, no estado em que Deus nos colocou, possamos um dia gozar convosco da bem-aventurança eterna. Amém.