Texto e pesquisa do Historiador Valdir José Nogueira de Moura (São José do Belmonte)
O projeto de lei de autoria do vereador Luiz Andrelino Nogueira, que propunha a retirada do nome “João Pessoa” nos idos de 1969, de uma importante artéria do centro da cidade de Serra Talhada, após ser analisado foi aprovado pela Câmara Municipal e sancionado pelo prefeito Sebastião Andrada Oliveira.
A atitude do Sr. Luiz Andrelino Nogueira, meu saudoso tio, em encabeçar esse projeto de lei chegou ao conhecimento das famílias Dantas/Suassuna, e dias depois ele recebeu a seguinte correspondência:
Prezado amigo Luiz Andrelino.
Meus cumprimentos.
A nossa distinta amiguinha Filó trouxe-me a grata notícia de que você “lavou o meu peito”, fazendo com que a Prefeitura de Serra Talhada apeiasse da esquina de uma rua o nome de João Pessoa – nome para mim profundamente odioso, – substituindo-o por outro. Você não avalia a minha satisfação quando o fato chegou ao meu conhecimento. Porque se começa a fazer justiça a esse energúmeno.
A História do Brasil, no que diz respeito aos fatos de 1930, tem que ser refeita, uma vez que ela foi escrita pelos vencedores dessa quartelada, que não soube nem explicar os motivos por que se rebelava, atribuindo os erros do momento ao Presidente Washington Luiz, quando os verdadeiros motivos da ansiedade nacional que atribulava os espíritos, vinham da crise do café, crise nacional, e também crise mundial de então.
Crise econômica que flagelava todos os países.
História é o relato imparcial dos acontecimentos de um povo. Os seus acontecimentos tem de ser explicados com as motivações que lhes deram origem. Não foram os erros do governo Washington Luiz que deram motivos a quartelada de 1930, porque estes ainda hoje continuam no Brasil – e mesmo profissionalismo político, e mesmo empreguismo, e mesmo sistema de eleições ibadeanas, comprando votos, quando só se elegem os milionários, os mesmos partidos políticos numa democracia de mentira, o mesmo urbanismo errado, quando o que se deve amparar é o CAMPO donde vem a riqueza e a fartura de alimentos, o mesmo sistema de criar repartições para o filhotismo de moças de coxas de fora e de rapazes cabeludos, que não fazem nada, “et tuti quanti”. Faço restrições quanto ao governo atual que desconheço, por viver na zona rural, sem ler jornais. Mas, como ia dizendo, isto não se deu em 1930.
Levo ao seu conhecimento opiniões de pessoas insuspeitas, depoimentos que futuramente serão levados em conta. Humberto de Campos, nome nacional, jornalista, escritor, espírito sereno, insuspeito, disse de João Pessoa: “Juiz irascível, que era, pessoalmente, um dos homens mais irritantes e politiqueiros do Brasil, antes do movimento de 1929. Ministro do Supremo Tribunal Militar, nomeado por seu tio Epitácio Pessoa, era um juiz irascível, que se vangloriava de condenar todos os militares rebelados contra o poder constituído, sem se dar, sequer, o trabalho de ler o processo”. (Humberto de Campos, “Memórias Secretas”).
Carlos Dias Fernandes, paraibano, jornalista exímio, romancista e poeta, disse dele: “…que o conhecia desde a juventude, o caráter impulsivo, a índole voluntariosa, a inteligência inculta e medíocre do novo Presidente (João Pessoa), e, como estivesse doente, deixou-se ficar no Rio. Microlândia (Paraíba) pacata e rural experimentou dias horríveis de sobressalto e perplexidade no governo aziago de Jayme (João Pessoa), sem compostura, sem preparo, sem capacidade moral para o mandato que lhe outorgara o tio e que o eleitorado panúrgico sancionara com a sua subserviência. Não houve amigo nem partidário leal e desprendido da família Villôa (Pessoa) que não provasse decepções e injustiças daquele ferrenho magistrado, sem comedimento, sem ternura, sem tolerância. “Do livro “Fretana”.
“Pesa nas contas do Sr. João Pessoa a carga de um temperamento impulsivo e de uma educação política das mais reacionárias”. Do jornal do Sr. Carlos de Lima Cavalcante, de Recife. “Juiz reacionário, intolerante, antipático para a corrente liberal…””Esquerda”, de Mota Lima. “Os drs. Fenelon Nóbrega, juiz de Direito da cidade Patos, e José Domingos Porto, juiz de Direito, da Capital, ambos, homens de uma dignidade ilibada, juízes de uma retidão inexcedível, foram, entre muitos outros, imolados pela prepotência da época pessoista. Com humilhantes mofinas eram ridicularizado, diariamente, em notas que “A União” publicava por ordem do governo estadual.
A mesma sorte teve o juiz de Direito da cidade de São João do Cariri, o dr. João Navarro Filho. Penetrou violentamente com a sua arrogância governamental, no Tribunal de Justiça do Estado e rasgou togas e difamou honras. Queremos exercer vingança contra o chefe oposicionista, o desembargador Heráclito Cavalcante, decretou sua disponibilidade, etc.” Dr. Joaquim Moreira Caldas, “Porque João Dantas assassinou João Pessoa”.
Se os tivesse à mão, poderia citar o que dele disseram os jornais do Rio, quando da revolta do Forte de Copacabana e julgamento dos oficiais rebelados, pelo S. T. Militar, de que ele era juiz. Pretendo publicar a biografia do Dr. João Duarte Dantas, por onde você verá o que se passou nos bastidores da política de 1930.
O seu ato, apeiando da esquina de uma rua, o nome de João Pessoa foi pura e lídima justiça, que será oportunamente repetido geralmente no Brasil, quando a verdade aparecer na verdadeira História do Brasil. Muito grato pelo seu gesto de Justiça. Apresente os meus respeitosos cumprimentos a sua digna e operosa Esposa e a seus filhos e creia-me seu Grato e velho amigo.”
Embrião de um dos mitos da história brasileira, o assassinato do governador da Paraíba (na época o cargo se chamava presidente do estado) e candidato derrotado à vice-presidência João Pessoa (1878-1930) completou 93 anos na quarta-feira (26). O político paraibano foi assassinado por João Dantas dentro da confeitaria Glória, no Centro do Recife. Esse assassinato se tornou um símbolo com força para ser o estopim da Revolução de 1930.
Valdir José Nogueira de Moura
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