
Por Folha de Pernambuco
Feições geológicas encontradas no subsolo do centro da capital paulista indicam que a região registrou um terremoto de grande magnitude há pelo menos 2,5 milhões de anos – bem pouco tempo do ponto de vista geológico. Um trabalho recente, publicado por pesquisadores da USP e da Universidade Federal do ABC, é o primeiro a documentar registros de abalos sísmicos de magnitude tão alta na região. Os tremores podem ter sido causados pela queda de um meteorito ou por atividade tectônica.
Publicado na Sedimentary Geology, o estudo revela que pelo menos um grande terremoto ocorreu na região, alcançando uma magnitude de, no mínimo, 6 graus na escala Richter – o suficiente para destruir boa parte do centro da cidade, se ocorresse nos dias de hoje. Os pesquisadores não sabem exatamente o que pode ter causado um terremoto tão intenso, mas uma das principais suspeitas é de que tenha sido a queda de um meteorito.
Atividade tectônica
A outra hipótese levantada pelos pesquisadores é de que o terremoto tenha sido causado por atividade tectônica. O Brasil está localizado bem no centro da Placa Sul-Americana e, por isso mesmo, os abalos sísmicos são raros por aqui. Terremotos são muito mais frequentes em regiões onde placas diferentes se encontram, pois há risco de choque entre elas. Porém, alertam os cientistas, tremores podem ocorrer em outras áreas pela simples movimentação das placas.
“Os grandes terremotos, em geral, ocorrem na plataforma continental, a 2 mil km de distância, e quando chegam aqui é com tremores muito fracos”, afirmou o geólogo Renato Henrique Pinto, do Instituto de Geociências da USP, que também assina o estudo. “A queda do meteorito faz mais sentido tanto do ponto de vista geológico, quanto da estratigrafia.”
Isolamento na pandemia
Os pesquisadores decidiram pesquisar o subsolo da cidade quando se viram no isolamento forçado pela pandemia de covid-19, em 2020. Estudar o subsolo paulistano não é uma tarefa simples, por causa da pavimentação e das construções, Os geólogos buscaram afloramentos de rochas no próprio câmpus da USP e também em praças no centro. O tipo de rocha encontrado é típico de regiões em que houve tremores de grande magnitude. Os pesquisadores também usaram os levantamentos do subsolo feitos pelo Metrô.
“Precisamos preservar esses afloramentos”, afirmou Renato Henrique Pinto. “Se forem cimentados, ninguém nunca mais vai poder ver. Então escrevi um projeto, para montarmos um roteiro de visitação e, se conseguirmos verba, fazer uma datação.”