Foto: Arquivo Farol

Publicado às 05h47 desta quinta-feira (10)

Mais uma família vive o drama de sofrer risco de morte por negligência no atendimento do Hospital Regional Agamenon Magalhães (Hospam), em Serra Talhada. Desde a tarde do domingo (6) até a manhã dessa terça-feira (8), um paciente precisava fazer a retirada do apêndice com urgência. Mas, sofreu com dores e febre nas cadeiras do Hospam e mais duas cidades, e retornou ao hospital por falta de combustível na ambulância e não foi operado na unidade. Teve que recorrer a um hospital particular para não ter seu apêndice rompido.

As vítimas da situação foram os serra-talhadenses Henrique José Rufino, 35 anos, e a esposa Tânia Samara da Silva, 27 anos, que o acompanhava. Em conversa com o Farol, Tânia, em lágrimas, relatou todo o ocorrido. Segundo ela, o médico plantonista do doming0 (6), mesmo dizendo que a cirurgia era de urgência se negou a fazer, ficou para o dia seguinte, mas o plantonista não apareceu. Disseram que ia transferir para Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú, porém só transferiram às 22h30. Ao chegarem lá o médico também se recusou a fazer alegando que o plantão dele estava encerrando.

Diante de mais uma transferência, e com toda a dificuldade que passaram, pois a ambulância não tinha autorização de acompanhá-los, o motorista decidiu fazer a transferência mesmo assim, porém ao chegarem em Arcoverde, no Sertão do Moxotó, o médico também se negou fazer, segundo ele precisava de mais cirurgião. Quis transferir para Caruaru, mas, não puderam ir porque além da ambulância de Serra Talhada não ter autorização, ficou sem gasolina suficiente, então regressaram para Serra.

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A situação no Hospam foi a mesma, Henrique não foi operado. Segundo a esposa, conseguiram ajuda e ele foi cirurgiado em um hospital particular porque já não suportava mais as dores e a febre e a humilhação.

A reportagem do Farol apurou que a Prefeitura de Serra Talhada acabou resolvendo o problema do casal, que teve às portas fechadas pelo governo do Estado.

LEIA A CARTA DESABAFO DA ESPOSA NA ÍNTEGRA

Neste Domingo (06) por volta de 13h30 meu esposo deu entrada no Hospam com fortes dores e suspeita de apendicite. Foi atendido pelo cirurgião plantonista do dia que ao examiná-lo e pedir exame de sangue confirmou a doença e disse que precisaria fazer uma cirurgia de remoção com urgência. Mas, segundo o cirurgião, ele não poderia fazer porque o plantão dele estava acabando. Achei um absurdo porque se era de urgência o que custava ele já fazer essa cirurgia.

Ele marcou pra o outro dia, de manhã passou uma ultrassom para confirmar e lá no Hospam não tinha quem fizesse então paguei e fiz particular, a ultrassom também confirmou apêndice e ficamos aguardando a cirurgia. O cirurgião do dia não apareceu, então disseram que iam transferir meu esposo pra Afogados da Ingazeira às 9h porque lá teria um cirurgião esperando por ele. Não transferiram. Passamos o dia de terror com meu esposo gemendo de dor, sem medicação, sem água e sem comida. Sem contar na grosseria de algumas enfermeiras que me tratavam mal quando eu perguntava notícias sobre a situação do meu marido jogado em uma cadeira, pois lá não tinha cama disponível esperando sabe Deus o que.

Conseguiram transferi ele pra Afogados às 22h30 da noite, em uma ambulância cheia que meu marido foi sentado gritando de dor. Vocês que estão lendo isso tem noção de como estávamos? Mas, o que nos fortalecia era a esperança que a enfermeira chefe da emergência plantonista do dia da segunda feira (7) garantiu que chegando lá estaria um cirurgião esperando por ele pra fazer a cirurgia. Já tinha passado do tempo de fazer a cirurgia e meu esposo ardia em febre. Seguimos pra Afogados e ao chegar lá o médico falou que não ia atender porque o plantão dele já tinha passado.

Eu me desesperei não tinha médico, meu marido estava sofrendo a enfermeira que foi com a gente queria deixar a gente jogado lá. Segundo ela, não tinha ordem para levar de volta. Então o médico transferiu ele para Arcoverde dizendo o médico que lá teria como fazer a cirurgia. Mas, o motorista da ambulância e a enfermeira de Serra que foram com a gente, se negaram a levar ele para Arcoverde. Ninguém ajudava a gente, a cena era de meu marido jogado em uma cadeira no corredor do hospital de Afogados e os enfermeiros um jogando pra o outro dizendo que era responsabilidade de Serra Talhada e os de Serra dizendo que agora era responsabilidade de Afogados.

O tempo do meu esposo estava passando, eu chorava desesperadamente e ninguém se importava. Eu gritava por socorro por alguém que me ajudasse. Até que o motorista da ambulância falou que me levaria para Arcoverde mesmo sem a ordem, não ia deixar meu marido morrer.  Quando eu pensei que o pesadelo ia ter fim chegando em Arcoverde foi pior. Por volta das 2h da madrugada, de segunda pra terça, o cirurgião plantonista de Arcoverde olhou pra gente e disse que não ia fazer a cirurgia porque ele estava só e teria que ser 2 cirurgiões.

Eu não tinha mais lágrimas, a dor e o medo tomavam conta de mim. E ele transferiu meu esposo para Caruaru, mas a enfermeira de Serra Talhada ainda acompanhando a gente disse que não ia, não autorizaram, a ambulância não tinha mais gasolina, o motorista disse que não ia. Então voltamos para Serra e jogaram ele novamente na cadeira do Hospam. Só Deus para ter livrado meu marido da morte porque por eles ele tinha morrido. Uma enfermeira chamada Jesus chorava indignada e por não conseguir fazer nada. O diretor do hospital nem lá foi, nada resolveu.

Até que apareceu anjos na nossa vida que nos ajudou com o valor para que pudéssemos trazer ele para fazer particular, o vereador Romério do Carro de Som me ajudou, entrou com providencia de Deus e resolveu a cirurgia do meu marido. Por volta das 17 h, Dr. Vital operou ele, outro homem de Deus, no Hospital São Francisco. Agora ele está operado e bem. Estou relatando em lágrimas tudo isso, nunca me decepcionei tanto com o ser humano. A nossa dor não comoveu ninguém. Saímos de lá ontem às 10h e eles nada tinham resolvido, nada. 

Tânia Samara

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O OUTRO LADO

A equipe de reportagem do Farol tentou entrar em contato com o Diretor do Hospam, João Antonio, por várias vezes, mas não obteve retorno das ligações.