opiniãoPor Luciano Menezes, Graduado em História pela UPE e Pós Graduado em História Geral e do Brasil

A “dignidade” rotineira do trabalho recomenda uma meta a cada instante; com uma fome insaciável constrói direta ou indiretamente: luxos, acúmulos de riqueza, autoritarismo e, consequentemente, injustiças e desigualdades sociais. Quadro assegurado principalmente pelas metas intermináveis.

Um espírito misto de raposa e abutre está lá, presentes nas “buscas das metas,” edificando grandes estruturas: enormidades que, de modo geral, Nietzsche afirmou estarem cobertas de sangue e suor.

Mas, como se calar diante das enganações das pessoas que são obrigadas a cumprir metas, semelhante ao castigo das Danaides – encher tonéis furados? Como fechar os olhos de modo indiferente em meio ao espetáculo das injustiças no âmbito social das metas infindáveis?

Quão grande é o número de explorados nas esferas comerciais, nas fábricas, nos hospitais, escolas, nos consultórios e em outras tantas repartições. Nos “santuários das metas”, o devoto homem se tornou um objeto, e nessa reificação o objetivo principal é satisfazer os caprichos de uma ordem suprema, que às vezes aparece tão próximo; muitas vezes na figura do gerente caprichoso. Que, quase sempre, com um venda nos olhos prega uma fecundidade falsa para a imposição das metas.

Como se não bastasse, a existência de lucros avarentos de várias formas, a invenção das metas surgiria para castigar corpo e mente. Extraindo o suor e o sangue, atingindo o corpo, e consequentemente, atormentando consciências, em especial, dos chamados profissionais da miséria, ou seja, aqueles que ganham salários ínfimos. Assim, esses marginalizados pela estrutura econômica permanecem suprimidos em seus cumprimentos de metas, na dependência e supervisão daqueles que se encontram anestesiados pela ambição dos lucros ou de seus subordinados – assalariados de colarinho e gravata.

Uma minoria beneficiada pelas metas, ostentando os resultados lucrativos está sempre alheia aos tormentos dos suados cumpridores de metas, chegando somente a se envergonhar do estado de miséria desses trabalhadores ou dos desempregados, às vésperas da sua ceia natalina. Onde, inevitavelmente desperta o seu sentimento de culpa, e então, tenta atenuar as dores reais desses homens, (aflições que perpassam os anos). Doam hipocritamente presentes e cestas básicas como forma de sentirem aliviados do fardo de culpa – o chamado verme da consciência nietzschiano.

Nesse panorama, a “legitimidade” de oprimir pelas metas obteve o seu triunfo, ou seja, conseguiu fazer com que alguns trabalhadores não enxerguem problema algum em tentar cumprir as metas e as suas regras. Diante disso, ocorre uma disposição mental de uma maioria de trabalhadores e, nesse cenário, de lado permanecem estáticos os miseráveis afogados nas metas, e do outro, os bens que brilham: frutos do trabalho produtivo que geralmente sustenta o homem luxuoso e o seu trabalho não produtivo.

Essa realidade de obter riquezas com o suor alheio fez com que Sêneca desafiasse qualquer homem a abrir as portas de sua casa, e convidasse todos da cidade para verificar se encontrava algo que não era legitimamente seu. E, se porventura permanecesse com os mesmos bens, esse seria um homem glorioso.

Concluo que, encontrar esse homem glorioso continua sendo uma tarefa quase impossível, diante da germinação social irrigada com o suor daqueles que não gozam de seu trabalho de forma justa, mas que, continuam “batendo metas” para a ascensão social e econômica de pequenos grupos.

O desafio de Sêneca ainda é válido.