Do Diario de Pernambuco

Ishara S. Kodikara / AFP

A União Europeia publicou nesta sexta-feira (29) o contrato de pré-compra de vacinas anticovid assinado no ano passado com o laboratório britânico AstraZeneca, com parágrafos inteiros ocultados por razões de confidencialidade.

O grupo farmacêutico está sendo pressionado pela UE, devido a atrasos significativos na entrega das vacinas.
Há vários dias, o Executivo europeu pede à AstraZeneca sinal verde para esta publicação.
“Saudamos o compromisso da empresa com o aumento da transparência (…) A transparência e a responsabilidade são importantes para reforçar a confiança dos cidadãos europeus”, comentou o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer.
Ele disse ainda que a divulgação do contrato mostrará que o acordo assinado inclui as fábricas da AstraZeneca no Reino Unido e que “essas fábricas contribuirão para o esforço (…) de entregar as doses para a União Europeia”.
O CEO da AstraZeneca, Pascal Soriot, argumentou esta semana que os atrasos nas entregas da vacina à UE se deviam a problemas em uma fábrica localizada em território europeu (na Bélgica).
A UE reagiu, alegando que o contrato não estipula que a produção das fábricas do Reino Unido seja reservada para esse mercado, devendo o laboratório utilizar essa produção para cumprir seus compromissos na Europa.
Mamer disse que a divulgação do contrato provaria que a AstraZeneca se comprometeu com um cronograma de entrega claro, e não simplesmente em fazer “melhores esforços” para cumprir o contrato da UE, como indicou o CEO do laboratório farmacêutico.
A divulgação do documento foi acertada com o laboratório, que, por sua vez, tenta comprovar que os motivos dos atrasos nas entregas constam no documento.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também deve anunciar, nesta sexta-feira, sua posição sobre a autorização do uso da vacina desenvolvida pela AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford.
A vacina já havia sido objeto de polêmica, depois que foram publicadas notícias na imprensa alemã sobre a conveniência de não utilizá-la em pessoas com mais de 65 anos. Esta vacina está sendo aplicada no Reino Unido, há semanas, em pessoas dessa faixa etária.
A UE assinou com a AstraZeneca um contrato de compra antecipada de até 400 milhões de doses. Por enquanto, o grupo estima que poderá entregar 17 milhões de doses ao bloco no final de fevereiro.
A Comissão Europeia exige, porém, que a AstraZeneca cumpra os compromissos firmados, utilizando, para isso, as duas plantas que a farmacêutica tem no Reino Unido.
Com fábricas no Reino Unido e no continente europeu, a empresa afirma que as fábricas europeias estão com “problemas de desempenho” e que assinou o contrato com Londres três meses antes do contrato com a UE.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já anunciou que não espera mudanças nos programas de entrega local de vacinas da AstraZeneca.
“A AstraZeneca se comprometeu a entregar dois milhões de doses por semana no Reino Unido, e não esperamos que isso mude”, afirmou.