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Fotos: Farol de Notícias/Alejandro García

Disposição, simplicidade e gosto pelo trabalho. Aos 88 anos? Sim! É possível. Esses são termos que marcam a história de vida de uma senhora de fibra que se arrisca na linha do tempo a bater o centenário com a lucidez, talvez, de uma adolescente e tocando uma ‘bodega’ sozinha no centro de Serra Talhada. Falamos de Dona Maria Gomes da Silva, mais conhecida por ‘Maria Galega’, que segura as pontas do estabelecimento com muito amor desde 1970.

Ela abriu o coração para o FAROL e disse que começou servindo cafezinho e almoço. Com o apurado, conseguiu criar seus seis filhos. ‘Maria Galega’ relembra que no início da bodega muita gente frequentava o estabelecimento, mas que agora poucas pessoas aparecem. A solidão passou a ser uma estranha parceira nos negócios. Ela acha que boa parte de seus clientes deixou de lhe visitar porque já morreu ou está com pouco dinheiro.

A bodega onde trabalha ‘Galega’, como boa parte das que existe na cidade, passa despercebida dos olhares sem pausa daqueles que caminham pelo Centro da Capital do Xaxado. Tem o número 35 na frente não só por questões postais, mas indicando que a soma dos números é quase a da vida de quem cuida dali. ‘Maria Galega’ diz que só deixa o ofício se morrer. “Ah! Meu Deus, eu vou logo, agradecida”, diz ela, falando da morte e relembrando com saudade do compadre já falecido que lhe alugou o pequeno espaço para que pudesse trabalhar e criar os filhos.

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“Ele disse a mim que eu só sairia daqui quando chegasse a hora de dar adeus ao mundo!”. Maria Gomes da Silva ressalta que, apesar de sempre ter trabalhado sozinha ali, nunca ouviu assanhamento ou desaforo de homem esses anos todos: “Os clientes bebem um cafezinho ou uma cerveja aqui com respeito, conheço todo mundo. Mas também nunca dei cartaz”. Embora os últimos anos não tenham sido fáceis, ‘Galega’ afirma que nunca passou dificuldades, mesmo tendo sido mãe e pai em casa.

Agradece a Deus pela família que tem e pelos dias que ainda vê amanhecer. Acostumada desde de criança a trabalhar limpando mato nas fazendas com o pai, a aposentada apesar do avanço da idade, mantém-se como uma fogueira viva atiçada pelas centelhas da memória e da saudade de tudo o que viveu em quase nove décadas.

“Não pretendo ficar descansado em casa, só sairei daqui quando eu morrer”, garante ‘Galega’, com um olhar meio distante, vislumbrando o horizonte pela pequena porta da bodega. Sem adormecer na nostalgia, ela toca o barco assim: com fé e exalando um olhar de quem pede mais uma visita. “Vocês querem um cafezinho?”, oferece Maria Galega, a nossa reportagem.

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