O ex-funcionário disse que considerava Airton Freire como um pai. Em nome da relação de afeto construída, tentava mudar a conduta do religioso como uma espécie de “missão pessoal”.
O homem contou que confrontava as atitudes do Padre Airton, mas que era manipulado a repetidamente dormir na “casinha”, um casebre de telhado de palha onde o religioso dormia, e onde as vítimas afirmam ter havido os estupros.
O ex-funcionário disse ter sido convencido pelo padre de que era uma espécie de “guardião espiritual”. “Ele usava muito essa questão de guardião. […] Ele sabia da minha curiosidade nessa questão espiritual. [..] Ele dizia que apanhava do diabo, amanhecia com umas ronchas”, contou.
Ele afirmou, ainda, que os abusos aconteceram por muito tempo. “Ele conseguia me manipular, de certa forma. Ele fazia sexo oral em mim, fez várias vezes. Quando era no outro dia de manhã, ficava aquela perturbação na minha cabeça”, disse.
Em uma das vezes, o homem disse ter sido dopado e estuprado enquanto estava inconsciente.
“Teve uma noite que ele colocou alguma coisa na garrafa d’água que ficava em cima de uma mesinha […]. Peguei a garrafa umas 11 e pouca da noite. Tomei a água e deitei na rede. Quando foi [por volta das] 5 e pouca da manhã, eu me acordei numa cadeira, que tem próximo da mesinha, só de cueca. E senti meu corpo, né? A gente sente o corpo da gente diferente”, declarou.
Abusos na casinha
Ainda segundo o ex-funcionário, com a desculpa de que precisava do homem para se sentir protegido na “casinha”, o sacerdote teria criado uma rotina de abusos.
“Ele usava muito o argumento de que, quando era pequeno, só dormia apertando uma esponja, que era para pegar meus órgãos. Ele dizia: ‘vai, eu pego dez vezes e você pega dez vezes em mim'”, afirmou.
O homem também disse que o padre tentava fazer com que ele dormisse nu. “[Quando eu] deitava de roupa, ele dizia que era uma falta de respeito. Eu tinha que tirar a roupa. Ele só dorme nu. […] Teve uma noite que ele chegou a gozar, a palavra certa é essa, gozar na minhas costas”, declarou.
De acordo com o ex-funcionário, ele preferiu juntar evidências contra o Padre Airton, para evitar que o religioso o afastasse do local antes dele reunir provas. “Tenho mensagens dele pedindo para me masturbar. Tenho bastante coisa”, contou a vítima.
“Ele estava na Terra Santa uma vez, no Rio Jordão, onde Jesus foi batizado. Ele mandou 18 vídeos pornô para eu assistir e analisar a raiz da coisa. Me masturbar e mandar para ele, que era para ele me purificar. Eu dizia: ‘pai, não precisa, posso rezar por mim. Não precisa fazer isso’. Era como se entrasse num ouvido e saísse no outro”, afirmou.
De acordo com o denunciante, todas as provas foram entregues às autoridades e agora fazem parte do processo, que corre em segredo de justiça.
Defesa
Por meio de nota, a defesa do padre Airton afirma que ele reitera ser “inocente” das acusações. Os advogados dizem que vão tentar conseguir um habeas corpus para o padre, e afirmam não terem tido acesso aos autos da investigação.
Eles também consideram que a prisão preventiva de Padre Airton não tem pré-requisitos legais, e que ela “contraria todas as previsões da legislação brasileira e até do direito internacional”.
“Airton Freire é um homem de 67 anos com sérias restrições de saúde. Desde que começou a ser alvo das acusações que refuta, afastou-se das funções eclesiásticas e da presidência da Fundação Terra, onde desenvolveu um trabalho social que atendeu milhares de pessoas nos últimos 40 anos. Além disso, manteve-se isolado e jamais incentivou manifestações ou atos que prejudicassem as investigações, apesar de receber o apoio voluntário de milhares de fiéis. E, por último, apresentou-se espontaneamente às autoridades quando da decretação da prisão preventiva”, afirma.
Os advogados do padre também dizem que ele não atrapalhou as investigações, não coagiu testemunhas e que não há perigo de “eventuais práticas criminosas que possam pôr em risco as supostas vítimas”.
“Os relatos levados às autoridades policiais remetem a supostos episódios de quase um ano atrás ou mais antigos, não sendo recentes para justificar uma prisão”.
Relembre o caso
- Em maio, Silvia Tavares de Souza denunciou que foi estuprada pelo motorista de padre Airton, Jailson Leonardo da Silva, a mando do religioso;
- Segundo Silvia Tavares, o estupro aconteceu no dia 18 de agosto de 2022, em uma propriedade da Fundação Terra;
- Desde a denúncia, Padre Airton está suspenso das atividades religiosas;
- Outros quatro inquéritos foram abertos, com diferentes vítimas;
- Padre Airton foi preso na sede da Fundação Terra, em Arcoverde, após o cumprimento de um mandado de prisão preventiva.
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