Fotos: Farol de Notícias/Celso Garcia

Publicado às 04h52 desta quarta-feira (2)

Na movimentação do cemitério de Serra Talhada nessa terça-feira (1), que era preparado para o Dia de Finados, estava a senhora Maria de Lourdes Soares Ribeiro, 62 anos, mãe solteira, que criou seus dois filhos sem a ajuda do pai. Hoje, é casada e mora no Bairro Vila Bela. Ela relatou ao Farol de Notícias que há 21 anos atua como zeladora das covas. Um trabalho que não é fácil, não tem um salário fixo, mas é constante. Irritada com os vexames que já passou no campo-santo, e com as consequências da falta de vigilantes que afeta diretamente o seu ganho, ela detalhou os episódios que a angustiam, roubos e perseguição de tarados.

O trabalho de Maria de Lourdes se resume à limpeza, cuidado das covas e dos canteiros. Diariamente chega às 5h, e fica esperando que alguém contrate seus serviços, que são baratos, de R$ 5 à R$ 20, a depender do serviço. Como se a vida já não fosse difícil, estão perdendo os contratos porque as pessoas estão com medo de irem ao cemitério devido a falta de segurança.

Consequência da falta de vigilante

“Às vezes, a gente encontra certos tipos de gente batendo coisas por trás da gente. A gente fica com medo, porque era para ter mais segurança. As portas dos túmulos que a gente zela estão roubando, porque a gente trabalha durante o dia, mas a noite não, porque não somos fiscais nem segurança. Aqui tem diretor, mas o diretor é diferente de um segurança. Ele não é segurança, ele é diretor. O diretor faz tudo, mas quando ele sai, fica essa safadeza. Quando a gente percebe, estão com o negócio do lado de fora balançando. A gente tem medo de ser estuprada. A gente pede à prefeita Márcia Conrado que coloque segurança aqui. Estou aqui porque preciso, porque se não precisasse não estaria”, desabafou Maria de Lourdes, acrescentando: 

“Aqui há túmulos que não têm mais porta, porque o dono está com desgosto, porque coloca de manhã e na tardezinha roubam, e não está mais vindo. A gente está trabalhando, é cheio de camisinha dentro dos túmulos, das capelas que estão sem porta. Essa é de gente que há muito tempo eu trabalho, nunca mais a dona veio aqui depois que roubaram a porta. Ela ficou com desgosto. O povo está com medo de vir aqui. Nós dependemos que as pessoas venham para fazerem contatos com a gente, porque a gente vive disso, a gente não tem outro ganho. Estou aqui desde às 5h e fico esperando que alguém chegue para me dar R$ 5, R$ 10, R$15, R$ 20, para eu lavar cova, túmulo, a gente coloca estrume e tudo”. 

Aos 62 anos está cansada e precisa se aposentar

Somando a esses dois episódios, perseguição de homens e roubo das portas dos túmulos, Maria de Lourdes destacou a dificuldade que enfrenta para conseguir a tão sonhada aposentadoria: “Quando eu era solteira criei meus filhos sem pai, trabalhando em casa de família. Trabalhei 29 anos na prefeitura como gari; no cemitério, no Tiro de Guerra, também como gari. Depois que o prefeito [Luciano Duque] entrou, antes dessa prefeita [Márcia Conrado], ele me colocou para fora. Já tentei me aposentar, dei entrada e eles me negaram, porque os papéis das pessoas que trabalham na prefeitura, parece que os prefeitos comem. Busquei e não consegui pegar meus contratos antigos, por isso não tive como me aposentar pelo tempo de serviço da prefeitura. Se Deus me ajudar, eu sairei daqui, porque eu não aguento mais trabalhar por causa da minha idade”.