Publicado às 05h33 desta quarta-feira (2)

Por Jorge Apolônio, Policial Federal e membro da Academia Serra-talhadense de Letras (ASL)

Até que enfim, Pernambuco livrou-se dos Arraes, mas deu um passo para a frente e outro para trás. Rimou? É, rimou, mas desafinou. Deu um passo para a frente ao dizer NÃO duas vezes aos candidatos de Lula ao governo de nosso estado (Danilo e Marília), NÃO ao arraesismo, porém deu um passo para trás ao dizer SIM ao próprio Lula e contribuir significativamente com a eleição dele a presidente.

O Brasil deu uma guinada para a direita na eleição do parlamento, mas elegeu para presidente um candidato de esquerda, sobretudo com a votação expressiva do Nordeste. Haverá um equilíbrio de forças entre o legislativo e o executivo. Assim sendo, Lula não conseguirá aprovar no congresso nada que não passe pelo crivo da direita. Por exemplo, não passarão medidas que atentem contra a liberdade de imprensa, o teto de gastos, financiamento de outros países etc. Lula terá menos liberdade do que teve em seus governos anteriores.

Apesar de ter dado um passo atrás com Lula, o Brasil avançou no parlamento. Conseguiu diminuir o número de partidos, algo excessivo e prejudicial à própria governança. Dos 32 partidos inscritos no TSE, 15 não ultrapassaram as cláusulas de barreira e perderam o direito ao fundo e horário eleitorais. Terão de se fundir ou serão extintos. Diversos já estão tomando providências para isso.

Como fica o Bolsonarismo? Vai embora do executivo federal com Bolsonaro, mas fica no congresso com 99 deputados do PL e outros tantos de diversos partidos aliados, além de uma bancada considerável de senadores. Deixa um excelente legado. Esses serão os responsáveis por colocar juízo no governo Lula para não destrambelharem a economia, o social e a liberdade. Deixa também uma excelente semente em São Paulo, Tarcísio Freitas, que, aqui para nós, é muito melhor que Bolsonaro, não fala besteira e é originalmente liberal, não vem evoluindo do estatismo doentio. Se fizer uma gestão em São Paulo à altura de sua reconhecida capacidade, despontará como rival natural de Lula em 2026. É só combinar com o governador de Minas Gerais, Zema, que não é cria do mito. A providencial presença de Tarcísio no horizonte político nacional servirá para Lula não ousar fazer besteira. Se ele insistir, não terminará o mandato. Depois de todo o mal que ele fez ao país, deveria mesmo era estar preso, mas…

Registre-se aqui a vitória folgada de Raquel sobre Marília. O PSB e os Arraes saturaram, geraram fadiga. Pernambuco merece e precisava superar essa oligarquia doentia. Raquel está correta em dizer que procurará Lula. É óbvio, ele é o presidente, teve uma votação estupenda em Pernambuco e tem dívidas antigas com o estado. A atitude de Paulo Câmara de se isolar de Bolsonaro foi uma estupidez ideológica. Perdemos todos. Paulo e o PSB, inclusive. Os atos têm consequências, sem exceção, positivas ou negativas.

Registre-se por último o feeling político da prefeita Márcia Conrado. No primeiro turno, lealmente apoiou Luciano Duque, do Solidariedade, e Danilo, do PSB, em virtude da coligação do partido dela, o PT. Elegeu Luciano. No segundo turno, à revelia do PT, apoiou Raquel Lyra, contribuindo para a sua vitória em Serra Talhada e Pernambuco. Márcia está agora com a faca e o queijo na mão: a governadora e o presidente, que, como se não bastasse, é do seu partido.