Publicado às 0652 deste domingo (15)

Por Paulo César Gomes, Professor, escritor e colunista do Farol

Gêra Manoel foi uma das figuras mais icônicas de Serra Talhada entre as décadas de 1960 e 1970. Era um sujeito alto e cabeludo. Era filho do Sargento Manoel Lourenço, e tinha dois irmãos, um por apelido de Tico e uma irmã chamada Neide. Gêra estudou, não se sabe até que série, mas ficou conhecido como um excelente sapateiro.

Chegou a casar, mas o matrimônio não durou muito tempo. Gêra viveu para a boêmia. Gostava de cantar e frequentava praticamente todos os bares e cabarés da cidade, “da rua da lama” ao “cem réis”. Em alguns bares existia um copo de vidro – o popular engana ‘bebo’ – reservado com o seu nome. Entres esses estabelecimento onde Gêra era tratado como uma espécie de consumidor ‘VIP’, estavam na lista de bares: o abrigo, o de Tota de Oscar, o de Josué e o de Zé Grande, na rua da favela.

Ele também costuma acompanhar os times amadores da cidade, em jogos nas cidades vizinhas, mesmo não sabendo jogar futebol, o que ele gostava mesmo era da folia. Gêra morreu ainda jovem, com apenas 44 anos. Em seus últimos anos de vida teve a atenção e os cuidados de Zé Grande.

Apesar da vida boêmia e do alcoolismo, fatores que o levaram a sua morte de forma precoce, Gêra de Manoel Lourenço era um das figuras mais populares da cidade. Certa vez um piloto recifense que atendia pelo apelido de Gato, que conhecia a região pois pilotava o avião que às vezes transportava o ex-deputado Argemiro Pereira, fez questão de levar o nosso boêmio para sobrevoar a cidade, um passeio com direito a piruetas e algumas rasantes nas proximidades da torre da Igreja da Penha.

Gêra se notabilizou por ter sempre uma resposta pronta para perguntas indigenistas. Separamos algumas dessas célebres respostas.

Conta-se que certo dia ele voltava de uma festa na cidade Triunfo e após passar seis dias sem ir casa. Ele chegou pelo fim da madrugada e início da manhã. E curiosamente, entrou de costa em casa. Sua mãe (que infelizmente não sabemos o nome) perguntou:” Já está chegando?” Ele respondeu: “Não, já estou saindo”. A mãe então pergunta: “mas porque então entrou de costa?”. Gêra então respondeu: “para não ter o trabalho de se virar!”

Em outra oportunidade ele estava conversando com Argemiro Pereira no bar abrigo. O então deputado desabafou e disse que para ser político era preciso  ter cabeça. De pronto Gêra completou: “se for por tamanho de cabeça, Zé Dantas Cabeção já pode ser o presidente do Brasil!”

Certa vez meu tio, que era amigo e parceiro de Gêra, o convidou para trabalhar no DNOCS, nas obras da construção do Açude da Cachoeira.  Gêra então lhe respondeu: “só de ouvir o nome trabalho me dar febre e dor de cabeça”.

Para tudo o homem tinha resposta, inclusive para água. Após dar alguns mergulhos em um açude, alguém perguntou a Gêra se a água estava boa (quente ou fria) e a resposta veio a galope: “eu vim aqui tomar banho não foi beber água”.

Com o passar dos anos o cabelo de Gêra começou a ficar grisalho e uma moça perguntou se ele estava pintando. O já sofrido boêmio respondeu: “Esses cabelos grisalhos foram pintados pela falsidade dos pincéis de algumas mulheres.”

Em virtude do alcoolismo, Gêra passou alguns dias internado, logo após receber alta médica, foi perguntado de forma irônica se ele esteve perto de morrer, o sapateiro então respondeu: “Estive perto da morte, já estava sentido o cheiro da alfazema e peso da mortalha”.

No próximo domingo traremos mais histórias e estórias do icônico Gêra de Manoel Lourenço.

ATENÇÃO

O alcoolismo é uma doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, e por isso mesmo o alcoólatra precisa de ajuda e fazer um tratamento médico ou uma visita ao A.A. (grupo de Alcoólicos Anônimos).