Psicólogo que atua em ST explica demissexualidade

Publicado às 05h25 deste sábado (29)

Na semana passada, a cantora Iza virou alvo de debates nas redes sociais após entrevista ao “Quem Pode, Pod!”, exibido na terça-feira (18). Primeiramente, declarou o fim de seu relacionamento com o produtor musical Sérgio Santos, destacando que os anos que passou casada com ele foram os mais felizes da vida dela, e que o motivo da separação foram os desencontros da vida. O segundo assunto diz respeito à sexualidade de Iza, que se declarou demissexual, o que gerou diversos debates, tendo em vista que o termo é pouco conhecido.

Considerando a polêmica sobre o assunto, o Farol de Notícias entrou em contato com o professor Alessandro Rezende,  coordenador de Psicologia da Faculdade de Integração do Sertão(FIS), que explicou o conceito de demissexualidade, as características e os problemas que o demissexual enfrenta. 

Alessandro Rezende é graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Possui Mestrado e Doutorado em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atualmente é coordenador e professor do curso de Psicologia da Faculdade de Integração do Sertão (FIS).

Em entrevista ao Farol de Notícias, o psicólogo respondeu quatro perguntas sobre a demissexualidade. Confira as perguntas e respostas da entrevista com Alessandro Rezende: 

Farol- Qual o conceito de Demissexualidade?

Alessandro Rezende: “Uma das definições principais da Demissexualidade é quando uma pessoa se sente atraída por outra apenas quando existe um vínculo afetivo, ou seja, a relação parte de uma amizade ou de uma admiração e não somente de uma admiração física. Essa admiração pode acontecer por meio da inteligência, de perspectiva de futuro coerente, congruente, de semelhanças, de projetos de vida semelhantes. Primeiro vem a conexão emocional e admiração afetiva, para posteriormente vir a atração física, quando ela vir”.  

“As pessoas às vezes confundem uma pessoa  Demissexual. Pensam que gosta da outra pelo aspecto da inteligência, mas não. O aspecto da inteligência é importante, porque dentro da inteligência existem outras características, como perspectiva de futuro, crenças, valores, normas, visões de mundo, que fazem com que a pessoa se vincule afetivamente”. 

Farol- Qual o perfil das pessoas demisexuais? 

Alessandro Rezende: “Em geral, pessoas que são Demisexuais não sentem vontade de se relacionar com alguém desconhecido, que, por exemplo, acabaram de conhecer em uma festa, já que esse tipo de troca é movida inicialmente pela atração física. Tem que existir um vínculo afetivo muito grande. Quando falo vínculo afetivo, não estou dizendo que a pessoa Demisexual tem que se apaixonar, primeiro deve haver alguma forma de interesse, algum vínculo emocional, para que a pessoa queira se relacionar”. 

“Em uma festa, por exemplo, mesmo que o outro esteja interessado por ela, e queira sexo casual no primeiro momento, isso não vai acontecer; porque ela cria primeiro uma atração emocional, para posteriormente criar uma atração física. O que importa para uma pessoa Demisexual é o carinho, o romance, o vínculo afetivo. Existem Demisexuais que constroem uma relação afetiva com a outra pessoa, mas que não necessariamente vão partir para a relação sexual; por isso que a Demisexualidade é uma forma de orientação sexual que também é colocada dentro do espectro dos assexuais”. 

Farol- Pessoas demisexuais podem sofrer ao assumirem sua sexualidade?

Alessandro Rezende: “Podem, porque a Demissexualidade assim como a heterossexualidade, a homossexualidade, faz parte de uma orientação sexual propriamente dita, é uma orientação sexual excluída, que não é reconhecida, que não é aceita. A gente, numa sociedade brasileira,  tem padrões fixos, normativos e valorativos muito bem estabelecidos de orientação. Você ser heterossexual, sentir atração sexual por uma pessoa do sexo oposto, ou você ser homossexual, e sentir atração sexual por uma pessoa do mesmo sexo, é aceitável ainda, embora a homossexualidade ainda tenha muitas controvérsias, mas isso ainda é possível; mas quando você chega para uma pessoa e diz que é demissexual, isso gera um conflito muito maior; porque o Demissexual, muitas vezes é confundido com o assexual”.

“Em uma festa, por exemplo, outra pessoa se sente muito atraída por ela fisicamente, quer beijar, quer ter relação sexual, e a pessoa não quer. Os colegas, os pares se questionam: ‘Poxa, você é tão bonita, a outra pessoa é tão bonita. Por que você não quis ficar com ela? Por que você não quis dar nem uma chance?’ Isso acaba gerando um estigma de exclusão, de que a pessoa Demissexual é uma pessoa muito seletiva, difícil, gélida, frígida, complicada. Uma pessoa Demissexual pode dizer que é difícil encontrar alguém. O Demissexual encontra muita dificuldade para viver a sua sexualidade dentro de um contexto contemporâneo, que reforça cada vez mais as relações líquidas e o sexo casual”. 

Farol- Quais seriam as consequências desse sofrimento?

Alessandro Rezende: “O primeiro ponto em termos de saúde mental que pode impactar uma pessoa Demissexual é a sua autoestima, porque essa pessoa começa a construir um conceito negativo sobre si mesma, porque ela percebe que não é aceita pelo pares familiares, colegas e amigos, e começa a entender que para construir uma relação afetiva com uma pessoa é muito complicado. Ela vai construir uma crença mental sobre si mesma que é uma pessoa difícil, que não consegue construir vínculos com as demais, que o problema é ela, e não a falta de aceitação da sociedade. Quando na verdade é o contrário, o problema é a percepção que as pessoas têm sobre outras vivências de orientação sexual”. 

“Além da autoestima baixa, isso pode ser acompanhado com ansiedade, porque a pessoa por não construir relações, ou não se sentir próxima a essas relações, vai se isolando e se distanciando. Autoestima baixa, isolamento social, e até um medo de tentar se relacionar com as outras pessoas porque ela se sente completamente não compreendida”, esclareceu, Alessandro Rezende.

Fala Povo

Na sexta-feira (21), a repórter do Farol de Notícias, Manu Silva, foi às ruas de Serra Talhada ouvir os jovens que se identificam como demissexuais e aderiram ao termo [confira aqui].