Diario de Pernambuco

Foto: Handout

Quase 100 civis foram retirados do complexo siderúrgico de Azovstal, reduto das últimas forças ucranianas na cidade portuária de Mariupol, confirmou, ontem, o presidente Volodimir Zelensky. O anúncio aconteceu depois que a ONU anunciou que uma “operação de retirada estava em curso” em Azovstal, em coordenação com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), as tropas russas e as forças ucranianas. A área industrial de Azovstal é o último reduto de resistência ucraniana na cidade do sul do país, controlada pela Rússia.

As condições de vida na rede de túneis sob a siderúrgica, onde analistas acreditam que centenas de civis permanecem ao lado de combatentes ucranianos, foram descritas como brutais. Os esforços anteriores para a retirada de civis haviam fracassado.

“Começou a retirada de civis de Azovstal. O primeiro grupo de quase 100 civis já está a caminho de uma área controlada. Amanhã, nos reuniremos com eles em Zaporizhia”, escreveu Zelensky, em sua conta no Twitter.

Já o ministério russo da Defesa afirmou que 80 civis deixaram a área industrial e foram levados para os territórios do leste controlados por Moscou. O ministério divulgou um vídeo da operação, que mostra civis chegando de ônibus à cidade de Bezimenne, entre a fronteira russa e Mariupol, onde foram recebidos por enviados da ONU e do CICV, sob vigilância de soldados russos.

Não está claro de onde vem a diferença de números de evacuados entre uma fonte e outra, mas o Ministério da Defesa russo já havia anunciado, no sábado, que cerca de 50 civis haviam deixado Azovstal.

Para os russos, a conquista total de Mariupol permitiria unir os territórios conquistados no sul, em particular, a península da Crimeia — anexada em 2014 — com as repúblicas separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk, ao leste. É justamente no flanco leste que o exército russo, numericamente superior ao adversário ucraniano e com melhores equipamentos de artilharia, busca o controle, do norte e do sul, para completar seu domínio sobre a região conflagrada do Donbass.

O papa Francisco reiterou, ontem, durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro, no Vaticano, o apelo por corredores humanitários para a retirada de civis de Mariupol. “Meus pensamentos estão com a cidade ucraniana de Mariupol, cidade de Maria, bombardeada e destruída de forma bárbara. Eu reitero meu pedido de abertura de corredores humanitários seguros”, declarou o pontífice.

Ontem, as bombas que explodiram em áreas de Kharkov e Donetsk deixaram oito civis mortos. Mas as forças ucranianas também reconquistaram territórios nos últimos dias, em particular ao redor da cidade de Kharkiv, fortemente atacada no sábado.

Uma das áreas recuperadas foi o vilarejo de Ruska Lozova, que, de acordo com os moradores, permaneceu sob ocupação por dois meses. “Ficamos na adega, sem comida, por dois meses, comemos o que tínhamos”, disse um morador, de 40 anos.

Visita de Pelosi

A presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, expressou apoio “inequívoco” do seu país à Ucrânia contra a agressão russa, um dia depois de uma visita surpresa a Kiev, sede do governo ucraniano, revelada ontem pelos governos dos dois países. Para Pelosi, a visita à capital permitiu compreender melhor “o que deve ser feito” para ajudar a Ucrânia. “Já estamos legislando as iniciativas que o presidente (Joe) Biden apresentou”, declarou ela, já na Polônia.

Biden pediu, na quinta-feira, ao Congresso, US$ 33 bilhões adicionais para a Ucrânia, dos quais US$ 20 bilhões serão destinados a armamento, quase sete vezes mais do que a quantidade de armas e munições já fornecidas à Ucrânia desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

“Obrigado aos Estados Unidos por ajudar a proteger a soberania e a integridade territorial de nosso Estado”, tuitou Zelensky, em uma mensagem que inclui um vídeo que o mostra, ao lado de guardas armados, no momento em que recebeu Pelosi e uma delegação do Congresso dos EUA, na entrada da sede da presidência, em Kiev, e, depois, em uma reunião com os americanos. “O governo dos Estados Unidos é um líder no sólido apoio à Ucrânia na luta contra a agressão russa”, acrescentou o presidente ucraniano.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que a operação militar está ocorrendo conforme planejado pela Rússia e alertou os países ocidentais para que parem de enviar ajuda militar à Ucrânia.

Com relação às sanções internacionais, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse ontem que é fundamental ampliar o cerco econômico à Rússia. Mais de dois meses após o início da guerra, “os bombardeios na cidade ucraniana de Odessa estão se intensificando, dando a entender que a Rússia pretende isolar a Ucrânia do mar”, explicou Borrell, em visita ao Chile. “Acredito que um novo pacote de sanções, que está sendo preparado, é absolutamente imprescindível”, acrescentou o diplomata.

Este novo pacote — o sexto — “inevitavelmente tem que tampar as lacunas que ainda não foram fechadas nos pacotes anteriores”, concentrando-se nos setores energético e bancário. O anúncio das medidas deve ser feito antes do dia 16.

“Há pessoas que pensam que não devem ser impostas mais sanções”, mas “temos que usar nossas capacidades econômicas e financeiras para que a Rússia pague o preço pelo que está fazendo”, destacou Borrell, que encontrou-se no meio da semana com presidente Gabriel Boric.

Rublo em circulação

Nas áreas controladas pela Rússia na Ucrânia, Moscou introduziu o rublo como moeda corrente na região de Kherson, embora também permita pagamentos com a moeda local. “A partir de 1º de maio, vamos integrar a zona do rublo”, disse Kirill Stremousov, que governa Kherson.