20150427_110653Por Emmanuelle Silva, estudante de Letras na UFRPE/Uast, militante social e repórter do FAROL

As aulas de história do início dos anos 2000, quando cursava o ensino fundamental, me diziam coisas bastante relevantes sobre como o mundo e a humanidade se constituíram e chegaram ao que temos hoje. Tudo por uma perspectiva eurocêntrica e americana, claro. Lembro de fazer atividades de pesquisa sobre a princesa Izabel, a abolição da escravatura e o quanto esse dia era significativo para a história dos negros no Brasil. As instituições por vezes podem nos iludir tanto, nesse momento era destituída da minha identidade, da minha raça, da minha ideologia política.

A “bendita” Lei Áurea, foi assinada em 13 de maio de 1888, pondo um fim no sistema escravocrata no Brasil. No entanto, 127 anos depois, nós do movimento negro não comemoramos este dia, simplesmente porque a lei foi assinada e mais nada. Os negros foram expulsos das fazendas e casas que trabalhavam e o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição privada não deu seguridade a essa parte da população. Luiza Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) disse ao Último Segundo, do portal IG: “Naquele momento, faltou criar as condições para que a população negra pudesse ter um tipo de inserção mais digna na sociedade”. Não houveram políticas públicas, e até hoje  carregamos essa herança.

downloadOs postos de trabalho que eram ocupados pelos sujeitos escravizados passaram a ser de imigrantes europeus. Pois os senhores de engenho e de terras preferiam pagar ao estrangeiro do que a um negro ou negra. Quem, afinal, pagaria pelos serviços de alguém que outrora lhe pertencia? Lógica cruel do sistema. Sem acesso a empregos, moradias, educação, saúde, para a população negra restou às ruas, a busca por sobrevivência e, por vezes momentos, a marginalidade. Momentos históricos que desencadearam todos os estereótipos que os racistas reverberam, os quais eu não reproduzirei aqui em respeito a mim e ao meu povo.

Há alguns segmentos do movimento negro que consideram a data como Dia nacional de combate ao Racismo, pauta muito mais relevante do que apenas relembrar e “comemorar” a história. Hoje é dia de reflexão e debate, de repensar o porquê de todas as políticas públicas que os governos têm implantado para homens e mulheres negras. Pensar no quanto foi apagado da história e da cultura dos homens e mulheres de diversas etnias africanas. Nessas pessoas que foram sequestradas, destituídas de suas identidades, torturadas e colocas a venda como mercadoria barata. Nas teorias raciológicas criadas unicamente para justificar o tráfico e escravização de pessoas negras, a sua animalização, sua hipersexualização. Enfim, o racismo.

negraDia 13 de maio, assim como todos os outros 364 do ano é um dia de reflexão, dia de lembrar do quanto de dor, sangue e sofrimento dos africanos e afro-brasileiros foi preciso para construir o Brasil que temos hoje. Essa é a herança que banaliza e discrimina e destitui a cor, o cabelo, os traços do rosto, o corpo, a beleza, restringe comportamentos, mata e marginalizam negros e negras do nosso país. Por isso que hoje que nós militantes do movimento negro lutamos por cotas, pelo cabelo black power, pelas religiões de matriz africana, pelas vestimentas e, principalmente, o respeito.

Por hoje é só pessoal!