ManuPor Emmanuelle Silva, estudante de Letras na Uast/UFRPE, militante social e estagiária no FAROL

Há anos que levantamos as bandeiras de sermos uma nação multicultural, amistosa, feliz, festiva e acolhedora. Brasil, o país do futebol! Brasil, o país do Carnaval! Brasil, o país do samba, da boêmia, da caipirinha e da mulata globeleza – e esse tópico já rendeu outro texto inteiro sobre a figura da mulher negra no Carnaval (relembre). Sempre me peguei pensando sobre onde se encaixavam as outras manifestações culturais que não representam tanto assim a massa do nosso país nesse período, e tenho percebido que certos estigmas cravados em nossas identidades nacionais são mais difíceis de serem driblados do que parece.

O Carnaval pode ser uma festa muito popular, mas ainda assim não podemos dizer que é do gosto de todos, já dizia o prefeito de Serra Talhada que há lugares no Brasil que não tem em suas veias a tradição carnavalesca. Generalizar é muito perigoso. Da mesma maneira que não podemos dizer que o forró é o ritmo do Nordeste, só temos isso na nossa região? Em Pernambuco só tem frevo? Serra Talhada só tem xaxado? Óbvio que não. E essas afirmações recaem em um estereótipo massificador que não diz respeito a todas as pessoas de um lugar.

O Brasil é realmente multicultural, multicor e miscigenado, não como propunha Gilberto Freire em sua obra CARNAVALCasa Grande e Senzala. Os colonizadores não queriam nossa amizade, não queriam se misturar de bom grado com índios e africanos escravizados, eles queriam dominação e subalternidade daqueles que consideravam seus objetos. Somos miscigenados sim, mas por trazer em nossas veias a herança e as marcas culturais de vários povos diferentes entre povos indígenas, povos africanos e europeus.

Mas voltando a pensar na folia carnavalesca, perceba que até mesmo o tipo de Carnaval é padronizado pelos grandes veículos de comunicação. Do samba da Sapucaí aos trios elétricos de Salvador esses ritmos encobrem o frevo, o coco, a festa do boi, o maracatu de baque solto e baque virado, os caretas, os papangus, o caboclinhos, as ala ursas e tantos outros ritmos e figuras que embalam o Carnaval pernambucano, por exemplo, que não têm a mesma visibilidade. Muitos jamais terão visibilidade, infelizmente. Porque será que não conhecemos o Carnaval tradicional de outros estados do país?

CARNAVAL2Não é de interesse dos veículos da indústria cultural que a sociedade consuma bens culturais tradicionais ou que fujam dos produtos da cultura de massa. As músicas são sem elaboração na letra e de ritmo viciante; os blocos e festas são caros e reproduzem incessantemente essas músicas, trazendo no seu bojo um suposto prestígio social, que mede seu sucesso pela sua felicidade e popularidade que os usuários expõem nas redes sociais.

Desde o início de 2015 que presencio a disputa entre é necessário ter Carnaval versus Serra Talhada não tem tradição nas festas de Momo. Tradições nós temos e muitas, que não condizem a apenas a espera municipal, só basta pensarmos no âmbito estadual que percebemos o quanto Pernambuco tem a nos ensinar sobre ele mesmo.

Aproveitem o Carnaval com responsabilidade.