Salões de beleza fecham as portas no Afeganistão após decreto do Talibã

Foto: Javed TANVEER / AFP

Por Folha de Pernambuco

Milhares de salões de beleza fechem suas portas de forma definitiva no Afeganistão nesta terça-feira (25), após entrar em vigor o decreto das autoridades talibãs que privam as mulheres de uma de suas únicas fontes de renda e um de seus últimos espaços de liberdade.

Desde que retornaram ao poder em agosto de 2021, os talibãs, muçulmanos fundamentalistas, excluíram as mulheres da maioria das escolas de ensino médio, universidades e da administração pública.

Elas também não podem trabalhar para organizações internacionais, frequentar parques, jardins, estádios e banheiros públicos ou viajar sem a presença de um familiar do sexo masculino. Além disso, deve estar completamente coberto ao sairrem de casa.

A decisão de fechar os salões de beleza, anunciada por decreto no final de junho, provoca o fim de milhares de estabelecimentos comerciais administrados por mulheres. Estes espaços eram, muitas vezes, o único recurso para suas famílias e constituíam um dos últimos espaços de liberdade e socialização para os afegãs.

Veja também:   Bombeiros prestam socorro a mais uma vítima de acidente em ST

“Costumávamos vir aqui e passar o tempo conversando sobre nosso futuro. Agora, até mesmo esse direito nos foi tirado”, disse Bahara, cliente de um salão de beleza em Cabul.

“As mulheres não têm direito de entrar em locais de lazer. O que podemos fazer? Onde podemos nos divertir? Onde podemos nos encontrar?”, questionou ela.

De acordo com a Câmara de Comércio e Indústria para as Mulheres Afegãs, a segurança dos salões de beleza fará com que cerca de 60 mil mulheres, que assistiram em 12 mil estabelecimentos, percam sua única fonte de renda.

Veja também:   'Luan Dinamite' quer trocar o Direito pelos palcos

Nesta terça-feira, muitos salões já haviam fechado suas portas em Cabul, enquanto outros esperariam até o último minuto para fazê-lo.

Uma proprietária relatou que foi forçada a assinar uma carta em que registrava o fechamento do estabelecimento por vontade própria, renunciando à sua licença para administrá-lo.

“Foi uma cena horrível: eles chegaram com veículos militares e fuzis. O que uma mulher pode fazer diante de tanta insistência e pressão?”, conto sob anonimato.

Na semana passada, as forças de segurança afegãs dispararam ao ar e lançaram jatos de água sobre dezenas de afegãs que protestavam em Cabul contra o decreto.

Ao confirmar a medida dias após a promulgação do decreto, o Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude havia informado que os salões teriam um mês (até esta terça-feira) para fechar suas portas.

Veja também:   Salgueiro não registra novos casos da Covid-19

O órgão justificou esta restrição alegando que as pessoas gastam quantias extravagantes em casamentos, o que considera um fardo muito pesado para as famílias pobres. Também argumentou que alguns dos serviços oferecidos não estavam de acordo com a lei islâmica, como o uso de maquiagem, que impedia que as mulheres realizassem suas abluções antes da oração, disse o ministério. Cílios postiços e tranças também foram proibidos.

Uma cópia escrita do decreto, a qual a AFP teve acesso, indica que a decisão foi baseada em uma “instrução verbal do chefe supremo” do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada.

Os salões de beleza permaneceram em Cabul e nas grandes cidades afegãs durante os 20 anos de ocupação das forças dos Estados Unidos e da Otan.